sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Para Deus, todos estão vivos

Reflexão de Georgino Rocha 


«Para Deus, todos estão vivos. Alegre notícia a comunicar a todos. Verdade sublime a envolver-nos em tudo. “A partir de Deus, (os que morrem) acompanham-nos, ajudando-nos, e podem interceder por nós junto d’Ele”... “No amor de Deus, os defuntos tem um coração muito maior do que tinham antes, aqui na Terra. Reconciliaram-se com o Senhor e também com eles próprios e com aqueles a quem não foi feita justiça”. Assim, igualmente os nossos falecidos pais continuam a ajudar-nos: “O nosso pai pode continuar a apoiar-nos a partir do Céu, a nossa mãe converte-se na imagem de amor e de segurança que Deus nos oferece” (A. Grün).»


Afirmação clara e conclusiva que desmonta a armadilha que os saduceus lançaram a Jesus e que visava ridicularizá-lo em púbico. Alegre notícia, portadora de fé e de esperança, para o coração humano inquieto com o futuro da vida. Mensagem encantadora que desvenda o rosto autêntico de Deus, o Senhor da vida, no qual todos vivem para sempre. Resposta feliz e apelo solícito que partem de Jerusalém e, ao longo da história, se prolongam por todo o mundo, despertando energias adormecidas em toda a humanidade, abrindo-lhe horizontes novos e definitivos. Lc 20, 27. 34-38.

O grupo dos saduceus configura, de algum modo, o conjunto de pessoas que pretende garantir a sobrevivência do ser humano por meio da descendência. E daí, apoiados na lei do levirato (cf. Dt 25, 5-10), a historieta que inventam. Morre o marido e não deixa filhos. Como fazer para que os bens não se dispersem e, sobretudo, a sua memória perdure longamente? A resposta encontrada esgota as hipóteses plausíveis. Sete é número de plenitude. A descendência é a forma mais nobre descoberta pela razão humana, superando modos muito apreciados por outras culturas: plantar árvores, gravar nomes em pedras, construir monumentos, escrever pergaminhos ou livros. (Ainda não se falava de clonagem, nem de reprodução medicamente assistida, nem de coisas no género). Esta diversidade põe em evidência a aspiração fundamental do ser humano que nasce para viver e não para morrer, para conservar a sua integridade original e não para se dissolver na podridão final.

Esta aspiração vital é satisfeita, plenamente, na comunhão com o Deus da vida de que fala Jesus. Para Ele todos estão vivos. A prová-lo fica o testemunho dos patriarcas e do próprio Moisés, que havia prescrito a lei do levirato. A razão é simples: se eles estão em Deus fonte da vida, todos vivem, todos participam desta fonte inesgotável.

Alguns saduceus, ao ouvirem o ensinamento de Jesus, comentam: “Foi uma boa resposta, Mestre” e sobre o assunto ninguém mais teve coragem de fazer qualquer outra pergunta. Para os discípulos a questão é assertiva e estimulante. A vida humana, sendo nossa por natureza, é dom de Deus, sagrada, portanto. A natureza pessoal tem ritmos no tempo e vai-se consumindo. Chega a hora de passar ao ritmo novo e definitivo, qualitativamente diferente: o ritmo da vida eterna, da comunhão plena na família de Deus, onde se encontram todos os humanos que deram resposta positiva, embora com modalidades muito plurais e diferenciadas, ao amor que Deus nos tem. Buscar outras saídas para o nosso futuro pessoal e colectivo é fruto apreciável da razão humana que fica, sempre, às portas do grande mistério, desvendado por Jesus, na magnífica resposta que dá aos saduceus.

A única morte que Deus conhece é resultante do pecado, recusa consciente e livre do amor que Deus nos tem e se manifesta em opções indignas da sublime condição humana revelada por Jesus Cristo. Recusa que desvirtua o projecto original com práticas de mentira em vez da verdade, de corrupção em vez da integridade, da marginalização em vez da inclusão, da aversão e do ódio em vez do acolhimento e do amor.

Para Deus, todos estão vivos. Alegre notícia a comunicar a todos. Verdade sublime a envolver-nos em tudo. “A partir de Deus, (os que morrem) acompanham-nos, ajudando-nos, e podem interceder por nós junto d’Ele”... “No amor de Deus, os defuntos tem um coração muito maior do que tinham antes, aqui na Terra. Reconciliaram-se com o Senhor e também com eles próprios e com aqueles a quem não foi feita justiça”. Assim, igualmente os nossos falecidos pais continuam a ajudar-nos: “O nosso pai pode continuar a apoiar-nos a partir do Céu, a nossa mãe converte-se na imagem de amor e de segurança que Deus nos oferece” (A. Grün).

A resposta de Jesus aos saduceus enche-nos de esperança e de coragem. “Os que forem dignos de tomar parte na vida futura e na ressurreição dos mortos” pertencerão sempre ao Senhor e estarão sempre com Ele, o Deus dos vivos. Que alegria e responsabilidade!

Georgino Rocha

Etiquetas

A Alegria do Amor A. M. Pires Cabral Abbé Pierre Abel Resende Abraham Lincoln Abu Dhabi Acácio Catarino Adelino Aires Adérito Tomé Adília Lopes Adolfo Roque Adolfo Suárez Adriano Miranda Adriano Moreira Afonso Henrique Afonso Lopes Vieira Afonso Reis Cabral Afonso Rocha Agostinho da Silva Agustina Bessa-Luís Aida Martins Aida Viegas Aires do Nascimento Alan McFadyen Albert Camus Albert Einstein Albert Schweitzer Alberto Caeiro Alberto Martins Alberto Souto Albufeira Alçada Baptista Alcobaça Alda Casqueira Aldeia da Luz Aldeia Global Alentejo Alexander Bell Alexander Von Humboldt Alexandra Lucas Coelho Alexandre Cruz Alexandre Dumas Alexandre Herculano Alexandre Mello Alexandre Nascimento Alexandre O'Neill Alexandre O’Neill Alexandrina Cordeiro Alfred de Vigny Alfredo Ferreira da Silva Algarve Almada Negreiros Almeida Garrett Álvaro de Campos Álvaro Garrido Álvaro Guimarães Álvaro Teixeira Lopes Alves Barbosa Alves Redol Amadeu de Sousa Amadeu Souza Cardoso Amália Rodrigues Amarante Amaro Neves Amazónia Amélia Fernandes América Latina Amorosa Oliveira Ana Arneira Ana Dulce Ana Luísa Amaral Ana Maria Lopes Ana Paula Vitorino Ana Rita Ribau Ana Sullivan Ana Vicente Ana Vidovic Anabela Capucho André Vieira Andrea Riccardi Andrea Wulf Andreia Hall Andrés Torres Queiruga Ângelo Ribau Ângelo Valente Angola Angra de Heroísmo Angra do Heroísmo Aníbal Sarabando Bola Anselmo Borges Antero de Quental Anthony Bourdin Antoni Gaudí Antónia Rodrigues António Francisco António Marcelino António Moiteiro António Alçada Baptista António Aleixo António Amador António Araújo António Arnaut António Arroio António Augusto Afonso António Barreto António Campos Graça António Capão António Carneiro António Christo António Cirino António Colaço António Conceição António Correia d’Oliveira António Correia de Oliveira António Costa António Couto António Damásio António Feijó António Feio António Fernandes António Ferreira Gomes António Francisco António Francisco dos Santos António Franco Alexandre António Gandarinho António Gedeão António Guerreiro António Guterres António José Seguro António Lau António Lobo Antunes António Manuel Couto Viana António Marcelino António Marques da Silva António Marto António Marujo António Mega Ferreira António Moiteiro António Morais António Neves António Nobre António Pascoal António Pinho António Ramos Rosa António Rego António Rodrigues António Santos Antonio Tabucchi António Vieira António Vítor Carvalho António Vitorino Aquilino Ribeiro Arada Ares da Gafanha Ares da Primavera Ares de Festa Ares de Inverno Ares de Moçambique Ares de Outono Ares de Primavera Ares de verão ARES DO INVERNO ARES DO OUTONO Ares do Verão Arestal Arganil Argentina Argus Ariel Álvarez Aristides Sousa Mendes Aristóteles Armando Cravo Armando Ferraz Armando França Armando Grilo Armando Lourenço Martins Armando Regala Armando Tavares da Silva Arménio Pires Dias Arminda Ribau Arrais Ançã Artur Agostinho Artur Ferreira Sardo Artur Portela Ary dos Santos Ascêncio de Freitas Augusto Gil Augusto Lopes Augusto Santos Silva Augusto Semedo Austen Ivereigh Av. José Estêvão Avanca Aveiro B.B. King Babe Babel Baltasar Casqueira Bárbara Cartagena Bárbara Reis Barra Barra de Aveiro Barra de Mira Bartolomeu dos Mártires Basílio de Oliveira Beatriz Martins Beatriz R. Antunes Beijamim Mónica Beira-Mar Belinha Belmiro de Azevedo Belmiro Fernandes Pereira Belmonte Benjamin Franklin Bento Domingues Bento XVI Bernardo Domingues Bernardo Santareno Bertrand Bertrand Russell Bestida Betânia Betty Friedan Bin Laden Bismarck Boassas Boavista Boca da Barra Bocaccio Bocage Braga da Cruz Bragança-Miranda Bratislava Bruce Springsteen Bruto da Costa Bunheiro Bussaco Butão Cabral do Nascimento Camilo Castelo Branco Cândido Teles Cardeal Cardijn Cardoso Ferreira Carla Hilário de Almeida Quevedo Carlos Alberto Pereira Carlos Anastácio Carlos Azevedo Carlos Borrego Carlos Candal Carlos Coelho Carlos Daniel Carlos Drummond de Andrade Carlos Duarte Carlos Fiolhais Carlos Isabel Carlos João Correia Carlos Matos Carlos Mester Carlos Nascimento Carlos Nunes Carlos Paião Carlos Pinto Coelho Carlos Rocha Carlos Roeder Carlos Sarabando Bola Carlos Teixeira Carmelitas Carmelo de Aveiro Carreira da Neves Casimiro Madaíl Castelo da Gafanha Castelo de Pombal Castro de Carvalhelhos Catalunha Catitinha Cavaco Silva Caves Aliança Cecília Sacramento Celso Santos César Fernandes Cesário Verde Chaimite Charles de Gaulle Charles Dickens Charlie Hebdo Charlot Chave Chaves Claudete Albino Cláudia Ribau Conceição Serrão Confraria do Bacalhau Confraria dos Ovos Moles Confraria Gastronómica do Bacalhau Confúcio Congar Conímbriga Coreia do Norte Coreia do Sul Corvo Costa Nova Couto Esteves Cristianísmo Cristiano Ronaldo Cristina Lopes Cristo Cristo Negro Cristo Rei Cristo Ressuscitado D. Afonso Henriques D. António Couto D. António Francisco D. António Francisco dos Santos D. António Marcelino D. António Moiteiro D. Carlos Azevedo D. Carlos I D. Dinis D. Duarte D. Eurico Dias Nogueira D. Hélder Câmara D. João Evangelista D. José Policarpo D. Júlio Tavares Rebimbas D. Manuel Clemente D. Manuel de Almeida Trindade D. Manuel II D. Nuno D. Trump D.Nuno Álvares Pereira Dalai Lama Dalila Balekjian Daniel Faria Daniel Gonçalves Daniel Jonas Daniel Ortega Daniel Rodrigues Daniel Ruivo Daniel Serrão Daniela Leitão Darwin David Lopes Ramos David Marçal David Mourão-Ferreira David Quammen Del Bosque Delacroix Delmar Conde Demóstenes

Arquivo do blogue

Arquivo do blogue