JESUS INDICA OS SINAIS DOS QUE ACREDITAM
Georgino Rocha |
O encontro de Jesus com os discípulos, antes da Ascensão, é muito expressivo e encorajante: confia-lhes a sua missão, indica os sinais que acompanham os que acreditarem, garante-lhes companhia de cooperação e promete confirmar a verdade da sua acção missionária. (Mc 16, 15-20).
A Igreja reza nos prefácios da Festa da Ascensão: “Depois da sua ressurreição, apareceu a todos os discípulos e à vista deles subiu aos céus, para nos tornar participantes da sua divindade e nos dar a esperança de irmos um dia ao seu encontro”. Esta é a certeza que nos move. Esta é a seiva que nos revigora e reconforta. Esta é a alegria que nos enche, mesmo nas maiores provações.
Vamos saborear a maravilha do Evangelho de hoje, seguindo de perto o complemento do livro de Marcos que faz parte da narração feita por cristãos da primeira geração. Jesus aparece aos discípulos “enquanto estavam a comer”. A refeição torna comensais os participantes, alimenta as forças, fomenta a partilha de ocorrências, faz crescer a amizade, infunde ânimo para novas ousadias, constitui momento singular para todos experienciarem a presença de Jesus ressuscitado. Que grande alcance ter o comer juntos, estar sentado à mesma mesa, escutar e dizer, celebrar “o magistério do amor” como refere Enzo Bianchi, monge da comunidade de Bose. Em entrevista à Visão, o teólogo italiano afirma: “A mesa é o lugar onde se iniciou a humanização, é o lugar onde nasceu a linguagem, a palavra. Então a mesa deve ser levada a sério. O problema é que hoje a mesa se tornou o lugar da máxima estranheza, quando a mesa tem a vocação para a máxima comunhão.”
Jesus leva a mesa a sério. Hoje, censura a dureza do coração, repreende a falta de aceitação do testemunho da sua ressurreição, confidencia segredos, faz-lhes as últimas recomendações, de que se destaca a boa nova/evangelho do cuidado integral do ser humano.
Jesus credencia a acção dos discípulos com sinais acessíveis e interpelantes. Em seu nome, os que acreditarem expulsarão os demónios do mal, da mentira, da corrupção, da indiferença acomodada, da violência da consciência, da falsidade travestida de cores de verdade, da má língua. A expulsão destes demónios e de muitos outros faz-se agindo em nome da sã humanidade que brilha no proceder de Jesus confirmado após a ressurreição.
A Igreja assinala hoje o Dia Mundial das Comunicações Sociais. O Papa Francisco dirige ao mundo uma bela mensagem que tem como tema "A verdade vos tornará livres” (Jo 8, 32). Vale a pena fazer a sua leitura completa. Destamos apenas o parágrafo seguinte: “Gostaria, assim, de contribuir para o esforço comum de prevenir a difusão das notícias falsas e para redescobrir o valor da profissão jornalística e a responsabilidade pessoal de cada um na comunicação da verdade”. E o Papa continua: “Libertação da falsidade e busca do relacionamento: eis aqui os dois ingredientes que não podem faltar, para que as nossas palavras e os nossos gestos sejam verdadeiros, autênticos e fiáveis… A verdade brota de relações livres entre as pessoas, na escuta recíproca”.
Em nome de Jesus, os que acreditarem falarão novas línguas do amor que sabe manter-se livre para melhor servir, da doação ao desenvolvimento integral de cada pessoa e de toda a humanidade, do cuidado da natureza que geme por todos os lados, da paixão missionária, da honestidade leal e firme na vida familiar e profissional, da coragem de viver a fé que pode ser selada pelo martírio. O mundo necessita de novas linguagens. E a Igreja pode oferecê-las sempre que seja fiel ao Evangelho e credencie o seu agir pela prática da caridade, o amor por excelência.
Recentemente Macron, presidente da república de França, na assembleia dos bispos deste país, fez um discurso onde refundou a laicidade. Do programa constava também uma intervenção da Igreja que foi feita “pondo a falar três pessoas: uma pessoa com deficiência que vive numa comunidade Arca, uma pessoa de um movimento similar com pessoas sem-abrigo e outro elemento das Conferências Vicentinas”. E conclui o P. José Nuno, do Santuário de Fátima: “A Igreja, quando tem de marcar presença e mostrar quem é, põe a falar a caridade”.
Em nome de Jesus os que acreditarem curarão os doentes colocando sobre eles as mãos de bênção e de proximidade, de acção bemfazeja e dedicada, de envolvimento e calor. Mãos que geram vida e a cuidam, defendendo-a de agressores insinuantes e leis iníquas, sobretudo na aurora do início e no entardecer do ocaso. Mãos de cuidado materno. Mãos de solicitude paterna. Mãos apoiadas no direito à vida que toda a lei justa deve proteger e promover, criando condições favoráveis ao êxito da sua realização.
Hoje a Igreja inicia a semana em defesa da vida humana. Da mensagem dos nossos Bispos, retiramos as seguintes afirmações: “O direito à vida é indisponível, como o são outros direitos humanos fundamentais, expressão do valor objetivo da dignidade da pessoa humana. Também não podem justificar-se, mesmo com o consentimento da vítima, a escravatura, o trabalho em condições desumanas ou um atentado à saúde, por exemplo.
Por outro lado, nunca é absolutamente seguro que se respeita a vontade autêntica de uma pessoa que pede a eutanásia. Nunca pode haver a garantia absoluta de que o pedido de eutanásia é verdadeiramente livre, inequívoco e irreversível”. É preciso intensificar a qualidade dos cuidados paliativos.
Os sinais de um são humanismos coincidem com os de uma fé autêntica. A realidade não pode ser desfocada e o nível ético reduzido ao mínimo. A festa da Ascensão de Jesus aponta claramente outro horizonte.
Georgino Rocha