Umas 35 mil pessoas, um pouco de todo o país, peregrinam a Fátima a pé. Partiram maioritariamente do Norte e muitos cumprem este ritual, com toda a naturalidade, anos e anos seguidos. Há, até, grupos organizados com apoio logístico. E a devoção com que o fazem, partilhando alegrias, dores, convívios, orações, cânticos, desabafos, confidências, descobertas interiores e muita fé em Nossa Senhora, decerto alheios às polémicas que as aparições ou visões têm provocado, está bem patente nos sacrifícios que as caminhadas impõem, sem deixarem rastos de desânimo.
Embora nunca tenha feito a experiência de peregrinar a Fátima a pé, não deixo de apreciar e compreender quem o faz. Aliás, é norma minha respeitar, em absoluto, as ideias ou convicções religiosas ou outras de toda a gente, na perspetiva de que também respeitem as minhas. A Fátima já fui imensas vezes, de carro, e reconheço que, para além das dúvidas dos céticos, o santuário e Nossa Senhora, que lá se venera, atraem anualmente milhões de pessoas, E como li e já senti, realmente ali respira-se um ar diferente, com a harmonia e a serenidade a aproximarem peregrinos ou simples visitantes. Até parece que o céu envolve aquele recanto do nosso país. À sombra da Virgem Maria, comungamos a paz interior e ganhamos forças para enfrentar o quotidiano de tantas agruras, mas ainda de tantas alegrias.
Peregrinar faz parte da vida de cada um de nós, física ou espiritualmente. Emocionamo-nos quando atingimos a meta, sentimo-nos realizados quando chegamos ao destino e apostamos em mais desafios pelo prazer de nos superarmos. E tanto peregrinamos a pé como de carro, de avião ou de bicicleta, de moto ou de barco, porque o que importa, no fundo, é descobrir novas terras, novas gentes, novos caminhos, que poderão ser de âmbito espiritual, religioso, cultural, desportivo, artístico e social.
Quando converso com peregrinos, percebo bem a força da fé que os anima, dos anseios que cultivam. Nunca encontrei desânimos e juras de jamais repetirem a experiência. Bom testemunho para muitos de nós.