Ferreira de Almeida na visita guiada |
Mário Ferreira de Almeida apresentou recentemente, entre 16 de fevereiro e 18 de março, em Aveiro, no Museu Santa Joana, uma mostra intitulada “Arquivo e Memória”, que encerrou com uma visita guiada pelo artista, natural da Gafanha do Carmo, onde reside e onde tem o seu atelier criativo e de trabalho. Esta foi a sua segunda exposição naquele espaço simbólico da cidade dos canais, tendo a primeira acontecido há 12 anos.
“Arquivo e Memória” faz parte da investigação integrada no projeto de doutoramento em Arte Multimédia, que o artista está a concluir na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.
No seu trabalho de investigação, Ferreira de Almeida debruçou-se sobre a Colónia Agrícola da Gafanha, tendo desenvolvido o tema “Colónia Agrícola da Gafanha: um olhar sobre as reservas. De que modo o lugar e a paisagem sobrevivem, ainda hoje, nos habitantes da Colónia Agrícola da Gafanha”.
A paixão pela arte, nas vertentes do desenho, pintura e fotografia, «surgiu muito cedo, ainda jovem, muito jovem», numa altura em que a vida de artista não era vista com bons olhos, tida como «não dando sustento», razão por que a sua paixão foi sendo adiada.
Anos mais tarde, entrou para a faculdade «e o sonho que carregava em si ganhou novo fulgor», entregando-se mais à pintura e ao desenho, mas sempre a partir do seu atelier, «na convicção de que a arte pode acontecer e manifestar-se em qualquer lugar e não apenas nas grandes cidades», mas também no pressuposto de que a «arte deve estar ao alcance de todos».
Com aquele objetivo, Ferreira de Almeida lançou recentemente o projeto “Brincar com Arte”, visando aproximar a arte das pessoas, nomeadamente, crianças, jovens, pais, tios, avós..., sensibilizando-as para o desenho e para a pintura e levando-as a «transportar para as telas sentimentos». «Cada um desenha e pinta ao sabor da sua imaginação e de acordo com as suas capacidades», frisou o artista.
Ainda sobre a exposição, Ferreira de Almeida disse que, para Foucault, o arquivo não é apenas o lugar onde se depositam documentos, «mas um espaço vivo onde tudo é depositável, o saber, as memórias, um conjunto de informações que ajudarão as gerações vindouras a construir o futuro». E lembra que Derrida chama a atenção para a utilização que pode ter a forma como o arquivo é colocado à disposição do povo, sublinhando que, «se for selecionada por alguém que queira instrumentalizar uma sociedade, pode levar a que sejam feitas barbaridades como já aconteceu no passado».
Na sua mostra, porém, não se correu esse risco, porque quis tão-só «que as memórias de um povo fossem mostradas no arquivo, onde as pessoas que passaram os portões imprimiram os seus sentimentos, emoções, alegrias, tristezas, em suma, as suas vidas».
Nesta exposição, o artista gafanhão lembra que foram apresentou 12 trabalhos, de que se destacaram «sete antigos portões de chapa zincada subtraídos do seu contexto original», os quais foram colocados num espaço museológico que «convoca para a reflexão sobre o arquivo e memória», e quatro caixas de vidro com elementos retirados dos portões: pregos, parafusos e outros elementos e, ainda, uma tela que está na génese desta mostra.
Fernando Martins
Nota: Entrevista feita por e-mail.