A ESTRELA QUE NOS GUIA PARA JESUS
Georgino Rocha
A estrela dos Sábios do Oriente que procuram Jesus, recém-nascido, surge como o grande referencial para quem deseja encontrar a verdade. Procura porque o seu espírito a intui e a vê partilhada por outros. Procura porque reconhece os sinais da novidade que vão surgindo um pouco por toda a parte e quer captá-los e entrar em sintonia. Procura porque sente o impulso de uma secreta esperança que anima os caminhos da vida.
Jesus, o procurado, irradia a sua luz a partir da encarnação, fazendo-se humano. Constitui assim um novo espaço de encontro com toda a humanidade: homens e mulheres, povos e raças, judeus e pagãos, novos e velhos, camponeses e citadinos. Hoje é o dia do encontro oferecido por Deus na gruta de Belém, aonde chegam os Sábios Reis vindos do Oriente, após terem feito um percurso que fica como iluminação de todos os que se dispõem a ser cristãos discípulos de Jesus, a Estrela por excelência. E a liturgia da Igreja destaca este encontro como meta de convergência do tempo de Natal que manifesta novos horizontes: A Belém acorrem os pastores; ao Templo, o velho Simeão e a profetisa Ana, símbolos queridos dos fiéis judeus; a Jerusalém se dirigem, rumo a Belém, os Sábios Reis. (Mt 2, 1-12).
De Belém, a pequena aldeia de Judá, a “mão de mestre” de Mateus guia os nossos passos para a universalidade dos povos, para o encontro das culturas, para a aliança da razão e da fé, chamadas a construir a harmonia sinfónica em cada um de nós. A contra-luz, fica o choque dos acomodados e seguros, bem representados por Herodes e letrados do país, políticos hábeis e pretensiosos, sacerdotes do templo-garante do usufruto do estatuto alcançado. A sua atitude mantém-se actual com rostos visíveis e provocadores. Do início ao fim, o relato de Mateus evidencia este contraste: rejeição de uns e aceitação de outros. No Calvário é o centurião romano e o ladrão da direita que confessam publicamente que Jesus é o Salvador, o filho de Deus. Enquanto, os judeus o desprezam e o condenam a morte humilhante.
A narrativa de Mateus é tão rica que vale a pena seguir os seus passos. Tudo acontece no tempo do rei Herodes, isto é, na história e na cultura, na política e na economia, pois Roma exercia domínio vigilante sobre a Palestina e impunha a sua ordem imperial. O ocorrido em Belém tem data, rostos humanos, que espelham condições sociais e religiosas diferentes.
A Jerusalém chegam uns sábios provindos do Oriente Médio, sendo difícil actualmente identificar o país de origem. A cena ocorre nesta região do mundo onde se centra, também hoje, o choque evidente do poder e da razão, do direito de todos à convivência pacífica e a exclusão forçado de muitos, da memória histórica comum e da força do facto político criado. O Papa Francisco e o Secretário-geral da Nações Unidas, António Gueterres, bem como outros líderes mundiais e organizações humanitárias erguem a voz e propõem a busca de soluções dialogadas pelas partes em os conflito.
Herodes fica alarmado com a notícia das visitas, convoca a corte dos conselheiros, apura a verdade das profecias, dá recomendações para o caminho a quem está em trânsito e toma as suas precauções. Tudo parece sinceridade e cortesia, fruto de um coração generoso e bom. O final da cena revela as reais intenções escondidas nesta perfídia. A matança das crianças – os chamados santos Inocentes – fica como ocorrência emblemática do que vem a acontecer ao longo da história. Ainda hoje, infelizmente!
Os peregrinos da verdade avançam “entre trancos e barrancos” como diz o povo, sempre guiados pelo desejo ardente de encontrar, beneficiando da luz da estrela da razão ou sentindo o peso da escuridão e da dúvida, típicas de quem ousa tentar, mesmo às “apalpadelas”. A coragem de resistir e querer levar por diante a decisão tomada revela uma apreciável consistência interior e uma firme clarividência do objectivo a alcançar. A qualidade do humano, que há em nós, mostra-se no seu esplendor. A confiança anima o caminhar.
E chegam finalmente. A estrela indica o local onde se encontra o procurado. A surpresa terá sido total: um Rei feito menino; uma gruta convertida em palácio; uma companhia de pessoas tão simples e silenciosas que nem sequer lhes dão as boas-vindas (pelo menos o relato não refere, certamente porque Mateus quer centrar a intensidade do encontro na atitude dos recém-chegados). E esta atitude torna-se emblemática para sempre: Ajoelhados, oferecem os símbolos da sabedoria iluminada pela fé: O ouro da realeza do serviço humilde que salva; o incenso da dignidade humana que espelha a novidade divina; a mirra da fragilidade das criaturas sempre necessitadas umas das outras e do Criador. Atitude que manifesta a humanidade de Deus e a divindade do Homem; Deus em nós e nós com Deus. Apreciemos quem somos e deixemos irradiar a luz que nos habita. E revigoremos a esperança no nosso peregrinar.