sábado, 18 de junho de 2016

Ser discípulo de Jesus, opção livre envolvente

Reflexão de Georgino Rocha


Jesus quer fazer a avaliação das iniciativas da sua missão na Galileia. Afere critérios de actuação com Deus Pai em diálogo de oração na presença dos discípulos. Sozinhos. Depois, prossegue com a conversa à base de perguntas e respostas. Conversa que tem como tema principal auscultar o “eco” da sua mensagem nas pessoas, saber o que diziam, verificar a compreensão dos seus acompanhantes. O tempo ia passando. As acções sucediam-se. Os comentários surgiam. A fama chegava às altas instâncias políticas e religiosas. Até Herodes Antipas, o rei governador da região, mostrava curiosidade pelo que estava a acontecer. Lucas situa este episódio depois da multiplicação dos pães, que fez reviver grandes expectativas, e antes de se iniciar a viagem para Jerusalém, viagem impregnada de catequeses sobre a novidade do projecto de Deus para a felicidade humana.

Saber quem é Jesus constitui o passo fundamental para fazer com Ele a viagem da vida, sonhar o futuro a despontar nos gestos do presente, re-ganhar ânimo para superar cada desafio ocorrente, assumir as consequências das opções livre e responsavelmente feitas, ser discípulo fiel e coerente. Sem este encontro pessoal, de consciência transparente e esclarecida, corre-se o risco de “macaquear” a religião e desfigurar o Evangelho. Sem esta convicção alicerçada na liberdade da opção não apenas inicial, mas permanente e definitiva, embora sujeita à fragilidade humana, não se caminha para a maturidade cristã, para a inserção eclesial, para a intervenção positiva na sociedade. Tomar a cruz é aceitar ser coerente com a opção feita. Quem escolhe, assume um bem e, com ele, o que advier; por ele, renuncia necessariamente ao que lhe é contrário; nele, cultivando os seus valores, aprecia a novidade que comporta e a silhueta da meta vislumbrada. Assim nos realizamos como pessoas situadas no tempo, responsáveis pelas opções tomadas e eticamente assumidas. O amor não é barato nem fácil.

“A vida de casal é um bom exemplo do significado da renúncia: renuncia-se porque se ama e porque pervive o valor da misericórdia acima dos próprios e legítimos direitos”. A dedicação ao voluntariado cívico, educativo, social, religioso, em qualquer das suas modalidades, espelha a beleza de uma opção e o alto preço do correspondente sacrifício. A coragem da doação a pessoas portadoras de deficiência grave e de doenças que geram grande dependência, de cuidadores de idosos e de outras limitações impeditivas, constitui uma excelente prova de humanidade e representa a mais-valia de quem é capaz de deixar a comodidade do seu bem-estar para viver e fomentar uma relação de ajuda solidária. E há tantos/as, felizmente, a poderem testemunhar a riqueza da renúncia por amor! Leigos/as e religiosos/ as, missionários/as, padres e diáconos, pessoas de honestidade comprovada e mártires da fé cristã! 

Pedro, em nome do grupo apostólico, responde acertadamente. “Tu és o Messias de Deus”. Jesus não o contradiz. Aceita e concorda. É o enviado, o ungido. É o esperado que vem realizar as promessas antigas. É quem finalmente vai estabelecer o reino desejado. Jesus, hábil mestre, tem uma reacção surpreendente. Quer realinhar o que possa haver de ambiguidade na compreensão dos discípulos. E surge a proibição terminante de divulgação, o anúncio da sua paixão de morte desastrosa, antes da feliz ressurreição e a denúncia dos intervenientes no processo da sua condenação - anciãos, sacerdotes e escribas: todos interessados em manter a ordem estabelecida; surge também o convite a tomar a cruz da vida como forma de o seguir com êxito. “Quem quiser”. Só para estes. Ninguém é obrigado. A mensagem cristã vive do amor à liberdade e à verdade, da coragem do seguimento, da espera paciente, da convicção firme de que vale a pena “morrer” para certas coisas a fim de viver para outras bem melhores. Da conversação informativa, Jesus passa a uma afirmação contundente: “ “Quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la; mas quem perder a sua vida por minha causa, salvá-la-á”. Nada de masoquismo nem dolorismo estéreis. Nada de egoísmos nem individualismos.

Os relatos do Evangelho mostram sem margem a qualquer dúvida a realização humana da causa de Jesus. Esta coincide com uma nova maneira de ser e de estar, de agir e de se relacionar, de olhar o outro como próximo e de ver o espelho do rosto de Deus, sobretudo nas pessoas desfiguradas pela dessorte provocada pela incúria de uns e pela malvadez de outros.

A causa de Jesus identifica-se com fazer a vontade de Deus que, segundo São Cipriano, “é aquela que Cristo fez e ensinou: a humildade no comportamento, a solidez na fé, a modéstia nas palavras, a justiça nos atos, a misericórdia nas obras, a disciplina nos costumes. A vontade de Deus consiste em não fazer mal a ninguém, em suportar aqueles que nos fazem mal, em manter a paz com os nossos irmãos, em amar a Deus de todo o coração, em amá-Lo porque é Pai e temê-Lo porque é Deus...”.

Quem sou Eu para ti? Queres seguir-me em liberdade? O meu caminho é exigente e a meta está à vista. Para ressuscitar, temos antes de morrer. Só o amor gera felicidade. Decide-te!

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