Onde estava no 25 de Abril?
Acordei cedo na manhã da revolução. Tinha de estar em Sever do Vouga por volta das 9 horas. Nessa altura não havia sinais de autoestradas por estas bandas. O caminho até Sever era sinuoso e moroso. Nesse dia tinha de visitar escolas e cursos de adultos, enquanto procuraria dinamizar algumas bibliotecas populares.
A rádio, quando a liguei no carro, anunciou abruptamente que estava em curso um movimento para derrubar o governo de Marcelo Caetano. Aconselhava que seria prudente as pessoas ficarem em casa. Não me lembro se esses primeiros avisos se destinavam a todos os portugueses ou apenas aos de Lisboa. Mas avancei para o meu destino. Paradela do Vouga foi a primeira escola, cuja diretora era esposa de um militar. De nada sabia nem conseguiu entrar em contacto com o marido. Ficou preocupada, como seria de esperar. Tranquilizei-a, até porque estava grávida.
O dia já não rodou como era normal. No bar de uma pensão de Sever (julgo que pensão Avenida) todos estavam com olhos fixos no televisor que nada dizia de concreto. Palavras soltas e frases inconclusivas. Liga e desliga. Volta a ligar e a ficar silenciado. Nem uns militares que andavam na serra em serviço se mostravam informados. De vez em quando telefonavam, mas sabiam tanto como nós.
À noite, em Rocas do Vouga, os alunos do curso não compareceram e regressei a casa. Em casa, houve serão e a alegria generalizou-se na companhia de vizinhos. A longa noite do regime do chamado Estado Novo ruíra. Fez-se luz e a democracia nasceu.
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