sábado, 25 de abril de 2015

O futuro com quatro bombas

Crónica de Anselmo Borges 

Anselmo Borges


Haverá alguém que duvide de que vivemos num mundo, por um lado, exaltante, mas, por outro, sobretudo um mundo perigoso, ameaçador?
Numa conferência recente, o filósofo e teólogo Xabier Pikaza alertava para os perigos e as ameaças e enumerava as quatro bombas que pesam sobre a humanidade e o seu futuro.
Chamava a atenção, em primeiro lugar, para a possibilidade da guerra universal, com armamento nuclear: a bomba atómica. O Big Bang foi há 13 700 milhões de anos, e nós, Homo sapiens sapiens - acrescente-se sempre, e demens demens: homem sapiente sapiente e demente demente -, aparecemos recentemente, quando se considera todo o processo de 13 700 milhões: há uns 150 mil anos. Mas, se até aos meados do século passado, vivíamos ainda separados uns dos outros e, sobretudo, a capacidade de destruição era limitada, com a bomba atómica a humanidade pode destruir-se e acabar. O processo que permitiu o nosso aparecimento tem milhares de milhões de anos, mas agora temos a possibilidade de nos matar e destruir em poucos dias ou mesmo poucas horas. Podemos optar por uma morte global. Quem pode garantir, por exemplo, que grupos terroristas não venham a ter acesso ao armamento atómico?

No passada quarta-feira, deveríamos ter lembrado de modo especial a Terra. De facto, o dia 22 de Abril foi estabelecido pela Assembleia Geral da ONU como o Dia Internacional da Mãe Terra. A Terra é efectivamente nossa mãe. No processo da evolução da Terra e na Terra, aparecemos como fruto seu: somos natureza, embora natureza humana, significando isso que somos da Terra, servindo-nos dela, mas ao mesmo tempo sendo responsáveis por nós e por ela. Sabemos que está em perigo e, consequentemente, que nós estamos em perigo. Se não cuidarmos dela, ela expulsar-nos-á dela. Os perigos são iminentes: pense-se no aquecimento global, nos índices da poluição, na destruição da biodiversidade... O célebre biólogo Edward O. Wilson, autor do termo "biodiversidade", conhecendo bem as ameaças, escreveu: "A criação: salvemos a Terra". O conhecido geneticista Albert Jacquard acha que estamos a preparar "o suicídio colectivo". James Lovelock, autor da teoria de Gaia, isto é, da Terra como organismo vivo, alerta para o risco de nos finais deste século desaparecer grande parte da humanidade.
A produção de ciência e tecnologia é característica essencial da pessoa humana. Mas será que tudo o que é tecnicamente possível é moralmente bom? Há agora possibilidades até há pouco insuspeitadas de manipulação genética e, mediante cruzamentos de várias tecnologias que se aproveitam dos conhecimentos da genética e também das neurociências, da computação, da cibernética, de fabricar humanóides em série, uma espécie de híbridos humanos, "máquinas espirituais" com algum tipo de consciência. O que acontecerá então com essas novas entidades, controladas e ao serviço de poderes incontroláveis?
A quarta bomba não é a menos ameaçadora: "o cansaço vital". Até agora, apesar de todas as crises, continuámos, porque havia um estímulo, um prazer, a vida era sentida como um dom e uma aventura. Mas hoje muitos sentem que já não vale a pena existir, a vida é sentida mais como um risco, uma tragédia e um fardo do que como um dom e uma aventura que valem a pena. Por isso, negam-se a ter filhos, promovendo uma espécie de suicídio, pelo "cansaço de uma vida que parece sem fundamento nem futuro".
É na Europa que este cansaço parece mais sentido, sendo bem possível que a desafeição religiosa contribua para a vivência do vazio existencial e axiológico. Assim, o filósofo agnóstico Gilles Lipovetsky faz notar que a reactivação da crença hoje, com o reinvestimento em antigas e novas espiritualidades, se explica pela exigência de sentido englobante, de referências, de uma integração comunitária: "É o que o homem necessita para combater a angústia do caos, a incerteza e o vazio."
Neste sentido, quando a Europa parece envergonhar-se das suas raízes cristãs, foi para muitos uma saudável e bela surpresa a saudação de Páscoa do primeiro-ministro britânico, David Cameron, de que fica aí o essencial. "A Semana Santa é um tempo no qual os cristãos celebram, com a ressurreição de Jesus, o triunfo da Vida sobre a morte. Para todos os outros, é o momento de reflectirem sobre o papel que desempenha o cristianismo nas nossas vidas." O cristianismo é "uma forma de vida": quando há sofrimento, necessidades, a Igreja está presente. "Sei por experiência que, nos piores momentos da vida, a proximidade da Igreja é uma enorme consolação." Através de toda a Inglaterra, a Igreja pratica o amor; por isso, "deveríamos sentir orgulho em dizer: este é um país cristão". Acolhemos e abraçamos todas as religiões e quem não tem nenhuma, "mas somos um país cristão". Como tal, "temos o dever de erguer a voz e denunciar a perseguição dos cristãos no mundo". Devemos recordar e agir a favor de todos estes "cristãos valentes" que sofrem.

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