JESUS, É ELE O FILHO DE DEUS
Georgino Rocha
Esta afirmação manifesta a convicção profunda a que chega João Baptista, após um processo lento de busca e reconhecimento. Processo que fica como exemplo de quem se sente peregrino na fé e assume o desafio de procurar resposta para as interrogações do coração humano. Processo que revela, de modo especial, a inter-acção fecunda de Deus com o homem/mulher e a qualidade do encontro pleno desejado.
João não conhecia Jesus, facto estranho que indicia uma nova dimensão de conhecimento. Sendo primos de sangue, a sua relação era familiar e, consequentemente, de parentesco próximo, de pertença à mesma tribo, de membros da comunidade que tinha encontros e convívios por ocasião de festas rituais. A este nível, o conhecimento era normal, espontâneo, natural. Mas João não mente. O seu amor à verdade está comprovado com o testemunho de vida honrada e com o assumir corajoso do risco ocorrente – a condenação à morte por ordem de Herodes. Que pena, haver quem desconhece Jesus ou fica apenas pelo conhecimento humano, respeitando-o como guru, benemérito da humanidade ou agente revolucionário da não-violência!
A nova dimensão insinuada refere-se ao conhecimento interior iluminado pelo Espírito, acolhido no coração dócil e expresso na fé inteligente. É ele que abre horizontes diferentes à realidade humana e “define” a identidade profunda de cada pessoa. É ele que “mergulha” nos acontecimentos e desvenda o sentido que comportam em (des)conformidade com o projecto de salvação universal que Deus tem em curso na história. Não deixemos de prosseguir este conhecimento interior que nos faz penetrar no mistério de Cristo, acolher a sua novidade radical com um coração dócil e comunicar o seu amor misericordioso com ousadia confiante.
João expressa os passos do seu percurso com diversas designações. Refere-se a Jesus, afirmando ser: Cordeiro de Deus, homem ungido pelo Espírito, Filho de Deus. Noutras ocasiões, recorre a mais formas igualmente significativas. Todas convergem para esta realidade sublime: Jesus, o Filho de Deus, vem salvar-nos. Liberta-nos do pecado que desumaniza a pessoa e dessolidariza os cidadãos. Unge-nos com o óleo da alegria e do crisma para a missão de discípulos enviados. Dignifica-nos, como filhos de adopção, pelo baptismo que nos faz membros do seu povo, a Igreja, e templos do seu Espirito. A afirmação de João é confirmada por Deus Pai na ressurreição de Jesus, seu Filho.
A fraternidade humana nasce desta matriz comum. Somos todos irmãos. Daí, a importância de sabermos acolher a todos, sobretudo os perseguidos por causa da justiça e os emigrantes em busca de melhores condições de vida. Daí, a urgência imperiosa de caminharmos para a unidade e vivermos em amor recíproco, especialmente os que reconhecemos Jesus como Filho de Deus e Senhor da história humana. “Estamos no mesmo barco e vamos para o mesmo porto… Não deixemos que nos roubem o ideal do amor fraterno!" – alerta o Papa Francisco. (EG 99 e 101).