João Carlos Magueta, 51 anos, pintor naval, atleta há 37 anos, treinador e dirigente do Grupo Desportivo da Gafanha (GDG) na secção de Atletismo, foi considerado pela Associação de Atletismo de Aveiro o atleta do ano 2013, pelo seu triunfo nos 3000 metros obstáculos, no escalão de Veteranos (M50). A prova realizou-se no Luso, no dia 13 de Julho, com o tempo de 12:01,45, marca que o consagrou como o melhor atleta nacional do seu escalão. Também é vice-campeão nacional dos 400 metros barreiras, no mesmo escalão.
A sua paixão pelo atletismo começou em 1976, quando viu Carlos Lopes nos Jogos Olímpicos de Montreal. Tinha 14 anos e nunca mais parou, acumulando as responsabilidades de atleta com as de treinador e dirigente. «Muito do pelotão nacional de atletismo foi influenciado pelas vitórias da Carlos Lopes, Fernando Mamede e Rosa Mota», afiançou-nos.
Sem se mostrar cansado e muito menos desanimado, João Magueta sonha com novos colaboradores para que o atletismo no GDG não esmoreça, antes progrida, atraindo mais jovens de todas as idades para uma modalidade desportiva que é realmente uma verdadeira escola de virtudes. «No atletismo, os atletas apoiam-se mutuamente em momentos difíceis, independentemente das equipas a que pertencem», disse.
O nosso entrevistado salientou que «no futebol há rivalidades agressivas», ao contrário do que se passa no atletismo, em que no ato de cortar a meta o vencedor «se vira para trás, para cumprimentar aquele que venceu no sprinte final». E frisou que no atletismo não se verificam as cenas do futebol, quando jogadores «fingem que estão magoados. Enganam-se a si próprios, enganando o público e o árbitro; até se diz que esse teatro faz parte do espetáculo».
João Magueta na Serra da Estrela |
Começou aos 14 anos no GDG, mas por falta de condições no clube ingressou no Galitos, tendo passado por outros clubes, nomeadamente pelo Senhora dos Campos e Póvoa do Paço. Como emigrou, participou em provas na França e Luxemburgo, como individual e como atleta de uma associação luxemburguesa. Mais tarde reabriu com o seu irmão Juvenal a secção do atletismo no GDG, tendo inscrito, no ano passado, 32 atletas.
João Magueta reconhece a força da TV e dos demais órgãos de comunicação social na sensibilização para a prática desportiva, mas denunciou o pouquíssimo tempo e espaço que é dado às modalidades amadoras. O futebol, como é sabido, ocupa lugar de honra a toda a hora, ignorando-se sistematicamente as outras provas desportivas, ou dando a vitórias alcançadas no atletismo ou noutras modalidades simples notícias em qualquer canto de página.
João Magueta gosta de correr maratonas, meias maratonas e provas de montanha, destacando as efetuadas nas Serras da Estrela e dos Candeeiros, bem como na Serra Nevada. «Gosto das montanhas porque exigem muito aos atletas; e quando corto a meta, sinto uma grande satisfação; depois, pelo meu cérebro, passa o filme dessas paisagens com todas as suas dificuldades e belezas naturais.»
Com os seus 51 anos, 37 dos quais a correr e a treinar, sublinha que só descansa um dia por semana, mas nunca deixa de passar pelas instalações do GDG, referindo que se trata da sua «segunda casa». Recorda que os atletas têm de treinar consoante as suas capacidades e idade, e que todos os anos se submetem a exames médicos, «para saberem se está tudo bem».
João Magueta frisou que aplica nos treinos que faz e dirige muito do que aprendeu com Júlio Cirino, «uma pessoa excecional», a quem o atletismo nacional muito deve. Mas não deixou de dizer que o atleta não pode parar, realçando: «Quando se abandonam os treinos e as provas, dificilmente conseguem retomar o ritmo até aí conseguido.»
Aos jovens, aconselha a prática desportiva como aconselha a prática escutista ou a pertença a outros grupos, «para evitar a queda em certos ambientes que só prejudicam as pessoas». Contudo, a sua preferência vai para o atletismo, como é natural. E explica: «O atletismo é o desporto que está mais à mão; não exige grande equipamento e quando saímos de casa já podemos começar a treinar; não são precisos pavilhões nem piscinas.»
João Magueta garante que o atletismo também é um desporto coletivo; nas provas por equipas, todos os atletas contam, inclusive os que ficam ao pé da ambulância, o que é uma vantagem em relação a outros desportos». E salientou: «Conheci atletas que, quando começaram, ficavam perto da ambulância, mas com o treino acabaram por ser campeões, como foi o caso do Nóbrega, nosso conterrâneo, que chegou a ser o 6.º melhor de Portugal nos 800 metros.»
Referiu que no atletismo há lugar para todos, «uma vantagem que esta modalidade tem», e não há árbitros, porque «não há irregularidades reais ou enganosas, como existem no futebol, por exemplo».
No final da entrevista, João Magueta fez questão de lamentar o esquecimento a que tem sido votada a nossa atleta Teresa Machado, olímpica quatro vezes. «Bem aproveitada, os seus conhecimentos e exemplo bem poderiam servir de estímulo aos jovens e crianças da nossa região», disse.
Fernando Martins