quarta-feira, 12 de junho de 2013

Alfredo Ferreira da Silva e os doentes

"Como Ministro Extraordinário da Comunhão
recebo muito mais do que dou"

Alfredo Ferreira da Silva, 81 anos, é o entrevistado deste  mês. A ideia de o entrevistar veio da sugestão que ele nos dirigiu, no mês de abril, para visitarmos um idoso, a caminho de um século de vida, a quem costumava levar a Hóstia Consagrada todas as semanas. Da conversa que mantivemos, resultou a obrigação de relatar para os nossos leitores o serviço litúrgico dos Ministros Extraordinários da Comunhão (MEC), em favor dos católicos impossibilitados, pela doença ou pela idade, de se deslocarem às igrejas da nossa paróquia, concretamente, à igreja matriz e às igrejas da Chave e da Cale da Vila.
Os MEC foram instituídos pela Sagrada Congregação da Disciplina dos Sacramentos em 29 de janeiro de 1973 para prestarem um serviço litúrgico que responda a necessidades concretas dos fiéis, destinado sobretudo aos enfermos e às assembleias litúrgicas com bastante participação, em especial na ausência de ministros ordenados.



Alfredo Ferreira da Silva começou a exercer esta missão no tempo do Padre Miguel Lencastre, que foi prior da Gafanha da Nazaré entre abril de 1973 e outubro de 1982, ainda antes da oficialização deste serviço entre nós. Nessa altura, o Padre Miguel criou uma equipa para ajudar a dar a comunhão nas eucaristia e para levar Jesus Sacramentado aos idosos e doentes. Eram sobretudo catequistas, lembrou Alfredo Ferreira da Silva, que nessa época exercia a tarefa de coordenar da Catequese Paroquial.
Quando a oficialização aconteceu, participou com outros membros da nossa comunidade num curso de preparação, organizado pela Diocese de Aveiro, em 1977, onde os candidatos foram esclarecidos sobre a verdadeira missão dos MEC, no seio do Povo de Deus.
Ao tempo, havia na paróquia um grande número de Visitadoras de Doentes (VD), que passaram a acompanhar os MEC nos dias e horas em que estes levavam Jesus Sacramentado aos idosos e doentes aos domingos. Essas visitas proporcionaram um registo, com a colaboração das VD, das pessoas impossibilitadas de participar nas eucaristias, e assim se formalizou este serviço litúrgico, no qual se integrou o nosso entrevistado. Uma vez por mês, celebrava-se uma eucaristia para os doentes, que eram transportados, os que estivessem à altura da deslocação, pelos familiares e ministros, esclarece Alfredo Ferreira da Silva. 
Os idosos e doentes, bem como os seus familiares, eram, naturalmente, preparados pelos VD, pois ninguém podia nem devia ser forçado a receber a comunhão, sublinha o nosso interlocutor.
Presentemente, os MEC deslocam-se sozinhos, pois, com o tempo, ficaram a conhecer as pessoas. Os VD ou familiares transmitem ao pároco ou seu substituto o desejo dos que querem comungar e tudo se resolve com muita facilidade. Na Gafanha da Nazaré, é o Padre César Fernandes que tudo coordena. Conhecidos os casos, o Padre César prepara as pessoas para receberem o Senhor e passa a informação ao ministros, tendo em conta as residências de uns e outros e o número de idosos distribuídos pelos ministros, não sendo conveniente haver mais de quatro para cada um.
Quando os MEC chegam à casa dos idosos e doentes, seguem o ritual que lhes é distribuído e para o qual estão devidamente preparados. Há normalmente uma palavra de saudação e de conforto, uma leitura bíblica, que pode ser o Evangelho do dia, e a recitação da Confissão. Depois rezam o Pai Nosso, o Cordeiro de Deus e recebem a Sagrada Comunhão. A visita termina com a Ação de Graças e, se possível, com um cântico.
Alfredo Ferreira da Silva referiu que há famílias que se associam à comunhão dos seus doentes, rezando com eles, mas também há as que, estando em casa, se divorciam da cerimónia. Nem por isso, contudo, os ministros deixam de revestir aquele momento da dignidade e da devoção que se impõem.
Sublinha o nosso entrevistado que por vezes há quem se prepare e prepare o ambiente para a visita do Senhor. «Uma senhora tem o cuidado de ter na cómoda da sala uma toalha com uma vela acesa; eu coloco o ritual e o Novo Testamento para as leituras, seguindo-se todo o esquema, terminando a curta cerimónia com a saudação final», sintetizou  Alfredo Ferreira da Silva.
O nosso interlocutor frisou que cada caso exige uma atenção cuidada. Não é conveniente chegar muito cedo, sendo necessário dar tempo a que aos acamados seja feita a higiene pessoal. Adiantou, ainda, que os MEC, no total de 23 na paróquia, não descuram a sua preparação, participando em reuniões, quer a nível paroquial, quer diocesano. 
Quando os ministros encontram situações que urge resolver, de âmbito social e caritativo, informam o Padre César, que providenciará no sentido de ajudar os doentes, idosos e suas famílias, através de outras instituições paroquiais e não só. E sobre este compromisso, assumido há tantos anos, Alfredo Ferreira da Silva fez questão de dizer que, como MEC, recebeu e recebe muito mais do que dá.

Fernando Martins

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