quinta-feira, 13 de junho de 2013

Manifestações religiosas


Multidões, grupos e elites



«Durante os séculos de um acentuado clericalismo, o povo não passava de consumidor de uma religião tradicionalista e festivaleira, nem sempre agradável nem fácil. O fermento deve ser da natureza da massa para que a possa levedar. Sempre que não existe este cuidado de criar na comunidade um fermento vivo e ativo que ajude a preparar as manifestações religiosas, as oriente e apoie, e continue depois a prestar uma ajuda renovadora, os resultados positivos, menores se não mesmo nulos, serão sempre mais ou menos passageiros. Organizar manifestações é mais fácil e rápido do que educar na fé os que nelas participam.» 

António Marcelino


O que se passa na Igreja passa-se também na sociedade. Outros valores, outros objetivos, mas a mesma realidade. Na Igreja multiplicam-se as multidões em peregrinações, romarias, assembleias, cortejos, festas da terra, celebrações de datas e agora encontros de jovens por cá e noutras terras longínquas. Na sociedade reúne-se muita gente em manifestações desportivas, protestos de rua, festas partidárias, comícios, em espetáculos e diversões de lazer. O povo exprime-se e participa, com maior facilidade em multidão anónima que por meios que personalizem.

Não falta quem se interrogue sobre o valor destes acontecimentos, em função dos resultados esperados e da renovação almejada. No caso das manifestações de carácter religioso, que se multiplicam no verão, não faltam opiniões críticas divergentes, sobre o seu valor e alcance evangelizador, sobre a personalização da fé e a verdade dos sentimentos cristãos dos que participam. Olhos de laboratório, mais do que de compreensão do povo e da vida real. A alternativa seria, para estes, dar apenas importância à formação de grupos e de elites que expressem, de modo diferente, a fé e o compromisso apostólico, e menosprezar as manifestações religiosas de massa.

Certamente, o caminho, logo então apontado por gente mais criteriosa e de visão abrangente, não é de exclusão ou alternativa, mas de respeito e integração dos diversos caminhos das pessoas, segundo a sua história, mentalidade e capacidade de expressão. Tudo se realiza num clima de liberdade de adesão. Todos devem ser acolhidos e respeitados nas suas opções. Além do mais, a pedagogia de Jesus Cristo é referência obrigatória para o agir da Igreja. Ele atendia e tinha respeito pelas multidões que O procuravam e seguiam. Para todos proclamava a Boa Nova do Reino. A todos ensinava e acolhia. A favor de todos multiplicava prodígios. Porém, neste mesmo contexto, dava formação mais exigente a um pequeno grupo, os apóstolos, e tinha a segui-lo e ouvi-lo um grupo mais alargado de discípulos. Não para fazer discriminações, mas tendo como objetivo, em favor do povo anónimo, dar atenção especial aos que seriam fermento para levedar a multidão em ordem a uma vida nova e com as novas perspetivas do Reino, que Ele anunciava e construía. 

Quando na Igreja se esquece a pedagogia evangélica e se fica preso a hipercríticas ou ao fascínio consolador das multidões, o abandono futuro da fé e a descrença progressiva estão a rondar a porta. Os tempos que correm já não constituem um ambiente motivador e favorável à fé e à prática da vida cristã, ainda que, por enquanto, muitos respeitem o povo e os seus sentimentos religiosos individuais. Durante os séculos de um acentuado clericalismo, o povo não passava de consumidor de uma religião tradicionalista e festivaleira, nem sempre agradável nem fácil. O fermento deve ser da natureza da massa para que a possa levedar. Sempre que não existe este cuidado de criar na comunidade um fermento vivo e ativo que ajude a preparar as manifestações religiosas, as oriente e apoie, e continue depois a prestar uma ajuda renovadora, os resultados positivos, menores se não mesmo nulos, serão sempre mais ou menos passageiros. Organizar manifestações é mais fácil e rápido do que educar na fé os que nelas participam. 

É verdade que na multidão das romarias e até das peregrinações, onde se participa por razões variadas, é difícil chegar às pessoas para as ajudar a purificar as sua motivações e lhes dar a mão para poderem ir mais longe. Então deve dar-se maior atenção ao ambiente onde as pessoas se dirigem, para que se possam sentir tocadas pela força espiritual, que muitas precisam e procuram, sem que o saibam.

A história nos diz que uma ação pastoral de multidões, com mais ou menos participação pessoal, mas sem grupos-fermento, atuantes em permanência no seio das comunidades locais, e sem líderes evangelizados e formados para servir, é uma ação falhada e sem futuro, onde tudo, antes muito vistoso, se esvai como o fumo. 

É verdade que as multidões das manifestações e celebrações religiosas são diferentes das que enchem os estádios desportivos para gritar e apoiar o seu clube e dirigir impropérios ao adversário e a quem dirige o jogo. Nem são como as manifestações políticas que obedecem às palavras de ordem de quem as promove e organiza. Nas manifestações religiosas há, normalmente, uma consonância de sentimentos, uma participação comum que se expressa livremente no mesmo sentido, um clima convocador e de vivência. Nada, porém, dispensa a atenção a prestar ao “depois” do acontecimento congregador. Na ação pastoral não deve predominar o espetáculo, mas sim o objetivo último, posteriormente avaliado. É a fidelidade a este objetivo que dá sentido a tudo quanto se programa e se faz nas comunidades cristãs.

António Marcelino

Etiquetas

A Alegria do Amor A. M. Pires Cabral Abbé Pierre Abel Resende Abraham Lincoln Abu Dhabi Acácio Catarino Adelino Aires Adérito Tomé Adília Lopes Adolfo Roque Adolfo Suárez Adriano Miranda Adriano Moreira Afonso Henrique Afonso Lopes Vieira Afonso Reis Cabral Afonso Rocha Agostinho da Silva Agustina Bessa-Luís Aida Martins Aida Viegas Aires do Nascimento Alan McFadyen Albert Camus Albert Einstein Albert Schweitzer Alberto Caeiro Alberto Martins Alberto Souto Albufeira Alçada Baptista Alcobaça Alda Casqueira Aldeia da Luz Aldeia Global Alentejo Alexander Bell Alexander Von Humboldt Alexandra Lucas Coelho Alexandre Cruz Alexandre Dumas Alexandre Herculano Alexandre Mello Alexandre Nascimento Alexandre O'Neill Alexandre O’Neill Alexandrina Cordeiro Alfred de Vigny Alfredo Ferreira da Silva Algarve Almada Negreiros Almeida Garrett Álvaro de Campos Álvaro Garrido Álvaro Guimarães Álvaro Teixeira Lopes Alves Barbosa Alves Redol Amadeu de Sousa Amadeu Souza Cardoso Amália Rodrigues Amarante Amaro Neves Amazónia Amélia Fernandes América Latina Amorosa Oliveira Ana Arneira Ana Dulce Ana Luísa Amaral Ana Maria Lopes Ana Paula Vitorino Ana Rita Ribau Ana Sullivan Ana Vicente Ana Vidovic Anabela Capucho André Vieira Andrea Riccardi Andrea Wulf Andreia Hall Andrés Torres Queiruga Ângelo Ribau Ângelo Valente Angola Angra de Heroísmo Angra do Heroísmo Aníbal Sarabando Bola Anselmo Borges Antero de Quental Anthony Bourdin Antoni Gaudí Antónia Rodrigues António Francisco António Marcelino António Moiteiro António Alçada Baptista António Aleixo António Amador António Araújo António Arnaut António Arroio António Augusto Afonso António Barreto António Campos Graça António Capão António Carneiro António Christo António Cirino António Colaço António Conceição António Correia d’Oliveira António Correia de Oliveira António Costa António Couto António Damásio António Feijó António Feio António Fernandes António Ferreira Gomes António Francisco António Francisco dos Santos António Franco Alexandre António Gandarinho António Gedeão António Guerreiro António Guterres António José Seguro António Lau António Lobo Antunes António Manuel Couto Viana António Marcelino António Marques da Silva António Marto António Marujo António Mega Ferreira António Moiteiro António Morais António Neves António Nobre António Pascoal António Pinho António Ramos Rosa António Rego António Rodrigues António Santos Antonio Tabucchi António Vieira António Vítor Carvalho António Vitorino Aquilino Ribeiro Arada Ares da Gafanha Ares da Primavera Ares de Festa Ares de Inverno Ares de Moçambique Ares de Outono Ares de Primavera Ares de verão ARES DO INVERNO ARES DO OUTONO Ares do Verão Arestal Arganil Argentina Argus Ariel Álvarez Aristides Sousa Mendes Aristóteles Armando Cravo Armando Ferraz Armando França Armando Grilo Armando Lourenço Martins Armando Regala Armando Tavares da Silva Arménio Pires Dias Arminda Ribau Arrais Ançã Artur Agostinho Artur Ferreira Sardo Artur Portela Ary dos Santos Ascêncio de Freitas Augusto Gil Augusto Lopes Augusto Santos Silva Augusto Semedo Austen Ivereigh Av. José Estêvão Avanca Aveiro B.B. King Babe Babel Baltasar Casqueira Bárbara Cartagena Bárbara Reis Barra Barra de Aveiro Barra de Mira Bartolomeu dos Mártires Basílio de Oliveira Beatriz Martins Beatriz R. Antunes Beijamim Mónica Beira-Mar Belinha Belmiro de Azevedo Belmiro Fernandes Pereira Belmonte Benjamin Franklin Bento Domingues Bento XVI Bernardo Domingues Bernardo Santareno Bertrand Bertrand Russell Bestida Betânia Betty Friedan Bin Laden Bismarck Boassas Boavista Boca da Barra Bocaccio Bocage Braga da Cruz Bragança-Miranda Bratislava Bruce Springsteen Bruto da Costa Bunheiro Bussaco Butão Cabral do Nascimento Camilo Castelo Branco Cândido Teles Cardeal Cardijn Cardoso Ferreira Carla Hilário de Almeida Quevedo Carlos Alberto Pereira Carlos Anastácio Carlos Azevedo Carlos Borrego Carlos Candal Carlos Coelho Carlos Daniel Carlos Drummond de Andrade Carlos Duarte Carlos Fiolhais Carlos Isabel Carlos João Correia Carlos Matos Carlos Mester Carlos Nascimento Carlos Nunes Carlos Paião Carlos Pinto Coelho Carlos Rocha Carlos Roeder Carlos Sarabando Bola Carlos Teixeira Carmelitas Carmelo de Aveiro Carreira da Neves Casimiro Madaíl Castelo da Gafanha Castelo de Pombal Castro de Carvalhelhos Catalunha Catitinha Cavaco Silva Caves Aliança Cecília Sacramento Celso Santos César Fernandes Cesário Verde Chaimite Charles de Gaulle Charles Dickens Charlie Hebdo Charlot Chave Chaves Claudete Albino Cláudia Ribau Conceição Serrão Confraria do Bacalhau Confraria dos Ovos Moles Confraria Gastronómica do Bacalhau Confúcio Congar Conímbriga Coreia do Norte Coreia do Sul Corvo Costa Nova Couto Esteves Cristianísmo Cristiano Ronaldo Cristina Lopes Cristo Cristo Negro Cristo Rei Cristo Ressuscitado D. Afonso Henriques D. António Couto D. António Francisco D. António Francisco dos Santos D. António Marcelino D. António Moiteiro D. Carlos Azevedo D. Carlos I D. Dinis D. Duarte D. Eurico Dias Nogueira D. Hélder Câmara D. João Evangelista D. José Policarpo D. Júlio Tavares Rebimbas D. Manuel Clemente D. Manuel de Almeida Trindade D. Manuel II D. Nuno D. Trump D.Nuno Álvares Pereira Dalai Lama Dalila Balekjian Daniel Faria Daniel Gonçalves Daniel Jonas Daniel Ortega Daniel Rodrigues Daniel Ruivo Daniel Serrão Daniela Leitão Darwin David Lopes Ramos David Marçal David Mourão-Ferreira David Quammen Del Bosque Delacroix Delmar Conde Demóstenes

Arquivo do blogue

Arquivo do blogue