sexta-feira, 26 de abril de 2013

O batismo é um direito de todos


Batismo das crianças sim ou não? 
D. António Marcelino 



Continua a ser frequente ouvir pais chocados porque o pároco se nega a batizar o seu filho, dada a sua situação matrimonial, e também a não aceitar os padrinhos propostos por não serem idóneos. O batismo é um direito de todos. Cada criança que vem ao mundo é já divina por natureza. Deus a criou à sua imagem e semelhança e a torna capaz, com a Sua graça, de viver e crescer na fé, até à plenitude da vida cristã. 
Esta realidade obriga os responsáveis da Igreja a ponderarem bem a atitude a tomar ante o pedido do batismo feito pelos pais de uma criança. A situação atual da sociedade e da Igreja faz com que aumentem os casos de pais que não receberam ou romperam, por opção ou imposição, o sacramento do matrimónio. Este facto leva, por razões pastorais óbvias, a que não se possa ou deva celebrar, sem mais, o batismo das crianças. Porém, o que pastoralmente é mais válido será sempre acolher bem os pais e ajudá-los a aceitar caminhos acessíveis, que os preparem para poderem garantir, com a sua ação e testemunho, a celebração do sacramento com futuro. Isto significa que deve haver esperança justificada de que a criança que recebeu o batismo será educada na fé pelos pais, padrinhos e outros familiares, nomeadamente os avós. Na idade própria, a paróquia estará preparada e disponível, para que a criança possa contar na catequese de um auxílio determinante para a sua vida de cristão com as opções pessoais que vier a tomar. 


Vem de longe o costume de batizar as crianças das famílias cristãs. Pressupunha-se que, no ambiente familiar, iriam crescer na fé. A comunidade paroquial ajudaria os pais, através de uma catequese bem organizada e adequada. A mortalidade infantil também aconselhava o batismo na infância. Deste modo se foi tornando uma tradição familiar e social, mais tarde também por parte de famílias não praticantes e mesmo das alheias à Igreja, por via de uma rutura, com ou sem razões. As motivações mais frequentes que agora persistem são deste género: “Nossos pais batizaram-nos e nós também queremos fazer o mesmo aos meus filhos”; “Não queremos que aconteça mal à criança por não estar batizada”; “Os nossos filhos não são menos que os outros que se batizaram na Igreja”… Estes motivos, ainda que imperfeitos, são de respeitar para que se possa iniciar um diálogo esclarecedor entre a paróquia e a família. Os motivos podem ser purificados para que possa responder à verdade do batismo e das suas exigências. O pedido do batismo pelos pais, neste mundo secularizado é sinal de que há no batismo uma graça que eles não podem dar aos filhos e por isso a pedem à Igreja que os ajuda a dizer que pedem o batismo: porque querem que o seu filho seja de Deus, seja santo. Trata-se de um “novo nascimento” que é dom de Deus, de uma graça singular que não dispensa, tal como na vida humana do bebé, a colaboração dos pais e dos outros membros da família, para que a semente da fé colocada por Deus no coração da criança se vá desenvolva e de fruto em boas obras. 
Não se pode pôr como condição que os pais casem antes na Igreja, se o podem fazer, para que peçam o batismo para os seus filhos. Parecendo ser lógica esta condição, a verdade é que se trata de dois sacramentos diferentes, não podendo, por isso, o matrimónio dos pais, que será livre de coações, constituir matéria de troca para o batismo dos filhos. Há pais que não pedem o batismo deixando que filhos, quando crescidos, o possam pedir e receber livremente, como opção pessoal. Então para jovens e adultos o caminho será outro. 
Segundo as doutrinas e leis da Igreja católica, o batismo não se pode negar nunca, mas apenas adiar-se até que haja garantia moral de que a criança será educada na fé cristã. Não se pode, porém, escamotear o problema de muitas paróquias que não têm planos pastorais concretos para ir ao encontro dos afastados e até dos não crentes. Nos tempos que correm, se a paróquia é só para os que vêm, esquece-se a parábola do Bom Pastor. Ele deixou de se ocupar apenas com o redil, para ir ao encontro da ovelha perdida. Esquecer esta recomendação é correr o risco de serem cada vez menos os que vêm ou vêm só ocasionalmente e nem sempre bem acolhidos. O mundo mudou. A Igreja não pode demorar tanto a rever a validade dos seus caminhos pastorais.

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