O CAMINHO DA GLÓRIA
Por Georgino Rocha
A aspiração a alcançar a meta dos seus sonhos e a ver-se reconhecido constitui um dinamismo vital do coração humano. Ninguém nasce para a mediocridade, nem é feliz ficando a meio do caminho. A desconsideração de si mesmo é um atentado à dignidade e à vocação ao crescimento. O apreço das capacidades e o reconhecimento dos limites, bem geridos, abrem as portas à realização do desejo original que sempre nos acompanha. As circunstâncias em que vivemos condicionam e podem potenciar esta realização. O esforço pessoal e o apoio solidário, incluindo a graça de Deus, completam as “ferramentas” a ter em conta no peregrinar constante da vida ascendente.
“Todo o nosso estilo de vida – afirma Henri Nowen no seu livro “O estilo desinteressado de Cristo” – está estruturado em torno à subida pela escala do êxito e pelo triunfo na cúspide. A nossa própria sensação de vitalidade depende de ser parte do impulso ascendente e do gozo proporcionado pelas recompensas usufruídas no caminho para o cume”.
A atitude dos filhos de Zebedeu realça este modo de ser humano. Tiago e João aproximam-se de Jesus e, com a maior naturalidade, pedem-lhe um lugar qualificado no “pódio” da sua glória: sentar-se um à direita e outro à esquerda. Nada menos! E o seu sonho correspondia ao que era normal: havia o desejo e tinham possibilidades. Tudo dependia dEle. A confiança era total.
Jesus acolhe o seu pedido e reencaminha a realização do desejo que expressam. O caminho da glória passa pela aceitação da cruz da vida, pela entrega incondicional ao serviço humilde e desinteressado, pelo esquecimento de si a fim de terem sempre presente o bem dos outros. A recompensa do sentar-se no trono, a Deus pertence.
E como contraste, aduz o modo de proceder dos soberanos que mostram a sua grandeza dominando, escravizando, espoliando os seus súbditos. “Não deve ser assim entre vós”.
Os discípulos entenderam, a custo, este ensinamento. A Igreja, em certas épocas da história, não deu grandes provas de lhe prestar muita atenção na prática. Hoje, quer ser mais fiel. Vive o Ano da Fé e evoca o magistério inestimável do concílio Vaticano II, celebra o sínodo sobre a Nova Evangelização e realiza localmente outras iniciativas de vulto, como a Missão Jubilar da diocese de Aveiro. A fidelidade é ao Senhor Jesus que continua, entre nós, de muitos modos, especialmente nas situações concretas da vida, sobretudo na dos empobrecidos e espoliados da sua dignidade, do seu pão e do seu trabalho. Hoje, envia-nos a sermos missionários da fé com alegria confiante.