Não há "bicho careta" neste país que não critique as medidas de austeridade por causa do efeito que têm sobre o consumo.
Segundo esta corrente, não se pode reduzir o consumo porque acelera a contracção da economia. Que por sua vez gera desemprego, que por sua vez faz cair as receitas dos impostos, agravando o défice.
É estranho que nem os mais informados insistam nesta "fixação". Porque têm obrigação de saber que o nosso ajustamento tem de passar pela quebra do consumo. Não há volta a dar: com PSD e CDS no poder, com PS no poder ou com qualquer outro partido. Quando não se tem rendimento para financiar o consumo, que é o que se passa em Portugal (e passou-se nos últimos dez anos), a solução é só uma: reduzi-lo.
Isso tem implicações graves para a economia, nomeadamente na redução da actividade económica e no desemprego? Claro que tem. Mas é inevitável: porque já ninguém nos empresta dinheiro para mantermos o nível de consumo que tivemos durante uma década.
Quanto mais tempo levarmos a entender o problema, pior. Aliás, se há prioridade que devíamos ter é assumir essa inevitabilidade e reconverter a economia a todo o gás (protegendo os desempregados enquanto se faz a reconversão): numa economia como a nossa, o consumo não pode pesar 2/3 do PIB. Isso significa que o sector "interno" tem de desaparecer?
Não. Mas tem de se adequar ao nível de procura consentâneo com o equilíbrio da conta corrente. Se isso não acontecer, daqui por quatro anos voltaremos a ter défices insustentáveis da balança coerente e... o regresso da Troika (por alguma razão fomos à falência três vezes em 34 anos...). É assim tão difícil perceber isto?