quinta-feira, 17 de maio de 2012

DESABROCHAR

POR MARIA DONZÍLIA ALMEIDA




Os tempos vão maus para os amores! Uma nortada insistente e penetrante teima em fustigar os corpos e arredar as paixões! A primavera entrou, suavemente, mas depressa cedeu o lugar ao seu antecessor, nas temperaturas baixas acompanhadas de ventos quase ciclónicos. Dizem as más línguas, que querem desvirtuar os atrativos da feira de Março, que foi esta a causadora do desconforto, vaticinando que este se prolongará, toda a duração do certame.
A temperatura que se faz sentir, nesta estação de amenas aragens, em vez de afagar... fustiga, repele... e as nossas crianças/adolescentes são muito sensíveis a esses efeitos eróticos. Ainda assim, já se vêem pelos bancos do jardim os parzinhos, muito enlevados, sussurrando ao ouvido... juras d’ amor? Quem sabe! Não sei se ainda se usam, nestes tempos de modernidade tecnológica!

Informação, educação sexual a decorrer na escola, por decreto ministerial, dá o suporte teórico, em aulas previamente planeadas para o efeito. Nestas, toda a atenção é pouca para captar a “matéria” que os professores transmitem. De vez em quando, vem uma pessoa de fora, especialista no tema, dialogar com eles e apresentar a sexualidade, sob o ponto de vista profissional. Os professores recebem uma formação ad hoc que associada a toda a sua versatilidade e espírito eclético, lhes possibilita a abordagem de mais esta problemática. Mas... ficam-se, apenas, pela teoria! Prática... observa-se fora da sala de aula, do espaço restrito das aprendizagens; nos corredores, na sala de convívio, no jardim!

E quando nós, professores, pensamos que temos na frente umas carinhas de anjo, inocentes, cândidas... surgem reações como esta: estava a teacher a falar de animais, tema da aula e de alguns de que gostava muito, proferindo esta frase: - gosto tanto de joaninhas, que quando vejo uma, fico feliz para o dia todo! - - A mim, o que me faz feliz para o dia todo, é ver uma menina do 5ºA! Respondeu de imediato o G... de 10 aninhos. Era uma “Joaninha” sim, mas com maiúscula! Apeteceu-me roer aquela cara de bolacha Maria, mas tive que conter o ímpeto, não fosse pôr o emprego em risco!

Hoje em dia, é tudo muito precoce! Tudo acontece, prematuramente. “Avança-se demasiado, queimando etapas da maturação”, dizia uma expert em educação sexual.

Não espanta que os desgostos de amor surjam numa idade que dantes era impensável. Noutros tempos, que foram os meus, uma menina brincava, com bonecas, até aos 15 anos. Não se tinha pressa de crescer, de amadurecer e entrava-se na vida adulta, suavemente, sem atropelos, no devido tempo. A infância é uma fase preciosa na vida duma pessoa, que se for bem vivida, é estruturante da personalidade. Numa família equilibrada, o crescimento faz-se, harmoniosamente e prepara-se o estado adulto. As nossas crianças, hoje, têm pressa de não sei quê! É natural que os afetos desabrochem, é a lei natural das coisas, o que é favorecido pelo facto de as turmas serem mistas. Longe vai o tempo, em que havia separação de sexos na escola. Recordo os meus tempos em que frequentei um liceu feminino, até ao antigo 5ºano e que só tinha professoras. Quando apareceu lá o Professor de geografia, foi um alarido! Outros tempos, de uma realidade obsoleta, mas que não era má, de todo. Ou estaremos agora num paraíso? A realidade fala por si!

21.04.2012



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