DESFOCAGEM INÚTIL,
DENÚNCIA NECESSÁRIA, URGÊNCIA DO ESSENCIAL
Um texto de António Marcelino
De quando em quando surgem na Igreja acontecimentos de cariz menos evangélico, que põem em causa o essencial. São fracassos e cedências à natureza humana e a um passado caduco, que nada trazem de positivo para a missão da Igreja, antes a deslustram e dificultam. Os confrontos surgem, e ainda bem, mesmo que dolorosos. Os últimos dias foram cheios: novos cardeais em festa, opiniões sérias sobre a sua escolha e sentido presente e futuro, da mesma, críticas objetivas a gente de carreira eclesiástica, que mais parece mover-se por interesses que pela causa do Reino.
Ao longo dos tempos nem tudo terá sido suficientemente evangélico nos serviços da Igreja. De tempos a tempos, é tal a fervura que a tampa salta. Para tudo há explicações, mesmo quando pouco ou nada explicam. O carreirismo, que o atual Papa já denunciou várias vezes, com veemência, em situações solenes, foi e continua a ser uma chaga pestilenta na vida da comunidade eclesial. Jovem padre, senti esta pecha em Roma e regressei triste. Paulo VI, ao internacionalizar a Cúria romana, quis ir às raízes do mal. Monsenhor em Roma não vale nada, bispo pouco, cardeal tudo. Ora, este ponto alto de uma “carreira” está envenenado pelas ânsias, influências e favores que suscita. Conheci, em Roma, ao longo dos anos, cardeais santos. Santos de altar.
50 anos depois do Concílio, seria bom que a Igreja se libertasse destas misérias. É possível e urgente. A coincidência de factos e notícias, agora na ribalta, não é inócua. A Igreja de Cristo é santa, mas apela, diariamente, à contínua conversão de todos os seus membros. Aí está a Quaresma, a dar eco a este apelo, que ninguém está dispensado de ouvir e de tomar a sério.
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