FICAR EM NOSSA CASA
Georgino Rocha
Esta feliz expressão pertence a uma mulher, sem nome identificado, que vivia em Sunam. Sabe-se que era uma distinta senhora, atenta ao que acontecia, casada, sem filhos. Vendo passar Eliseu, o coração segreda-lhe: É um santo homem de Deus. E vai dizê-lo ao marido. Decidem convidá-lo para descansar em sua casa e comer com eles.
O acolhimento, a conversação, a união em torno à mesa, proporcionam-lhes uma experiência de felicidade tal que resolvem construir um quarto onde ele pudesse hospedar-se, sempre que por ali passasse. Eliseu anuiu e assim fazia, satisfazendo o desejo diligente do casal.
Este episódio, na sua singela, encerra uma mensagem admirável. Talvez, tenha algum fundamento histórico, mas é sobretudo uma narrativa sapiencial Expurgada de pormenores culturais, tem validade para todos os tempos.
A casa de acolhimento é, sobretudo, o coração que vê para além das aparências ou melhor, sabe passar destas e ir mais longe e mais fundo, à realidade que identifica pessoas e situações. Daí a importância de educar o coração, fonte de luz intuitiva, sede de afectos e de paixões, força inebriante do amor humanizado.
Ver com o coração é abrir-se aos demais, vencer as barreiras e os preconceitos do desconhecido e do estranho; e aventurar-se a arriscar, a criar oportunidades, a estender a mão, a dar espaço interior e exterior aos “sem abrigo” de todas as intempéries.
Acolher o outro não só pela situação concreta, mas pelo que é: ser humano, necessitado de ajuda e dotado de capacidades. Saber potenciar estas e satisfazer aquelas faz-nos crescer em humanidade, ser fecundos em benefício da vida. Ninguém empobrece, todos nos tornamos mais ricos. A sabedoria popular de inspiração bíblica diz-nos que há mais alegria em dar do que em receber, que fica sempre um pouco de perfume nas mãos de quem oferece rosas.
Reconhecer o outro na sua dignidade abre a casa do nosso coração a uma nova dimensão: a da Jesus Cristo, que realiza uma forma de presença real, embora discreta, em cada pessoa, designadamente nos necessitados, nas crianças, nos enviados em missão. Por isso, nos deixa a garantia confirmada de que não ficará sem recompensa quem der um copo de água fresca a um destes pequeninos por serem meus discípulos.