Santa Maria Manuela
Terra à vista...
Terra à vista...
Maria Donzília Almeida
A navegar, há muito tempo, o mesmo da gestação de um aluno (!?), neste mar encapelado, que é o ensino, em que as intempéries assolam, a cada passo, a “embarcação” e a calcular pelo tempo da viagem, vislumbra-se já, para breve, terra firme, terra à vista!
Irmanados todos, no mesmo barco, cooperando para o êxito das manobras, todos os tripulantes soltam as velas e desafiando Eolo, navegam, à bolina.
A proximidade do mar, na geografia das Gafanhas, a banhar-nos a costa (Nova) e a espevitar a energia dos nossos alunos daí oriundos, está subjacente a esta analogia.
Nesta fase da navegação, em que os dias de primavera se esgotam no calendário e o verão já espreita, tímido, atrás das orvalhadas da manhã e das ventanias de fim de tarde, aqui estamos, nós, os professores, a limar as últimas arestas. Os diamantes brutos que nos foram depositados, em mão, sofrem o último polimento...e em breve partirão, para o “cruzeiro” a que têm direito. Para uns, será o descanso merecido, a que podem, com toda a propriedade chamar férias, para uma seca, outros, aqueles que deixam de ter alvos a atingir com o seu tiroteio verbal e quórum para alinhar nas suas piratarias!
A educação, metaforicamente identificada com uma navegação em alto mar, é árdua, não pelo trabalho docente da transmissão de conhecimentos e estruturação da personalidade, mas pelo esforço titânico de “remar contra a maré”! A cada passo nos deparamos com perigos e armadilhas, em alto mar, que nos fazem perder o leme. O uso da bússola, do sextante, do astrolábio, da pagaia, do sonar, etc, etc, ajuda muito na navegação marítima, mas é indispensável que o comandante deles faça uso e a tripulação colabore.
Quando o professor utiliza as melhores metodologias, se socorre das novas tecnologias, se enche duma paciência de santo, para captar a atenção dos mais débeis de concentração, capacidade, esperaria que a atenção, a receptividade, o interesse fossem proporcionais ao esforço despendido. Nem sempre assim sucede, pois há sempre aqueles para quem a navegação é...... só, para os marinheiros!
Ainda há tempos, quando o assunto gramatical era o past tense dos verbos, surgiu algo de imprevisto que veio dar mais colorido à aula e a sensação de um show musical.
O “assessor de informática” preparou o equipamento necessário, PC + quadro interactivo, para passar a canção dos Beatles – Yesterday. Que melhor forma para introduzir aquele conteúdo gramatical, naquelas cabecinhas de tenra idade, do que a forma lúdica que a canção tão famosa proporcionava?
No átrio adjacente à sala, passava uma assistente operacional que sorriu e acenou com a cabeça, à explicação dada sobre aquela banda dos anos 60. Minutos depois, a convite da teacher, que sabia do seu talento, estava a cantar para os alunos, na sua voz cristalina e melodiosa, o Yesterday dos Beatles. Também a cantora sabia de cor a letra, o que facilitava e abrilhantava a actuação. Os alunos acompanhavam com a visualização da letra, no quadro, em versão bilingue. Foi, para mim, um momento alto, escutar aquela voz tão bela, tão sentida, que me fez recuar no tempo, até à minha longínqua juventude! A nostalgia de um período áureo, em que tinha a vida toda pela frente! Os alunos, entusiasmados, com aquela súbita exibição, já todos trauteavam a canção.
Com esta magnífica instrumentação, desejaria que todos os meus alunos chegassem a bom porto, no terminus da viagem, mas há sempre aqueles que... deixam passar a maré, por baixo do barco, utilizando uma expressão típica das Gafanhas.
Resta-nos, a nós, profissionais da educação, a esperança de, com um novo timoneiro a conduzir o barco, sejamos conduzidos a porto seguro e protegidos da invasão de piratas! O cabo das Tormentas, em que temos andado enfeitiçados, pela voz do “Adamastor”, seja finalmente convertido em Cabo da Boa Esperança! Haja Deus!
Parabéns, Menina Aurora! Tem um dom, que eu lhe invejaria, não tivesse eu sido contemplada, também, com alguns, a começar... no nome!
11.06.2011