domingo, 1 de maio de 2011

Um poema para este domingo



Paisagem com mar

Vinda de um fundo espesso e incompreensível
a lua pulsa como um coração negro pintado
A cada pulsação avança no écran da noite
até chegar a sobrevoar a esplendente superfície do mar
que assim finalmente entra em palco

Um milhão de fogos cintilantes e frios iluminam
essa cena — uma massiva queda de estrelas
que a mesma lua projecta
sobre a memória das grandes ondas oceânicas

Há depois um daqueles instantes
em que uma veloz cadeia de coincidências antecipa
para ti a leve e inconsequente saudação da morte:
A lua transforma as vagas nuvens que por baixo dela navegam
nos cumes nevados de grandes montanhas pálidas —
pedra branca e cinza — Uma neve
que irradiasse uma neblina azulada

Como se a lua, ecoando a terra
nos céus imitasse uma paisagem terrestre

Manuel Gusmão

Publicado ontem, sábado, no PÚBLICO, na rubrica “Poema ao sábado”

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