O “casamento” na Escola
Mª Donzília Almeida
Com a mediatização insistente, feita sobre o casamento do herdeiro da família real, é natural que a expectativa e a curiosidade se tenham exacerbado. O dia 29 de Abril fora anunciado com muito tempo de antecedência e todos os dias se ia levantando, um pouco, o véu, para aguçar o apetite e alimentar a curiosidade das pessoas.
Quando cheguei à escola, nesse dia, o tema geral de todas as conversas era o casamento real. E aguentar na sala de aula, toda aquela efervescência e ansiedade para verem tão divulgado acontecimento?
Para os manter minimamente atentos às actividades da aula, fiz-lhes a promessa que os deixaria sair uns minutos mais cedo, para poderem visualizar o evento, no ecrã de plasma, situado na sala dos alunos.
Quando chegou a hora prometida, lá foram aqueles alunos, com o coração aos saltos, deliciar a vista com o movimento e colorido do cortejo nupcial.
Os alunos chegavam e partiam em levas como as ondas do mar, tão próximo de nós, num movimento cíclico de vai vem.
Visto por uns, esta exibição de fausto e grandiosidade, num país que não está nas melhores condições económicas, não passa de um fenómeno de ópio do povo. Este esquece ou alheia-se durante algum tempo, dos seus problemas e das suas frustrações. A inacessibilidade a este mundo de fantasia, funciona quase como um conto de fadas, que encanta e hipnotiza. Os problemas da vida ficaram em lugar incerto.
Para outros, em que se incluem as mulheres em grande número, o casamento de William Arthur Philip Louis com Catherine Middleton é um fenómeno de identificação e de sonho. Os adolescentes e jovens criam na sua fantasia uma história de amor e sedução em que são eles os protagonistas, à semelhança dos heróis apresentados. A grandiosidade do acto, traduzida na beleza das imagens é altamente inspiradora para a gente nova. E quem não gosta de sonhar? Sonha-se em todas as idades, havendo até quem diga que o homem só envelhece, quando os sonhos dão lugar aos lamentos.
Perante aquelas imagens tão vívidas e pitorescas, eu que também já fui menina e moça recordei a minha fantasia com o Príncipe Carlos. Na Gafanha do século passado, por volta dos anos 60, o único contacto com a civilização, fazia-se através do jornal Primeiro de Janeiro que se comprava aos domingos. Num belo domingo de Novembro, aparece no jornal uma breve notícia sobre o Príncipe Carlos que fazia 16 anos nesse dia. Contrariamente ao aspecto que tem hoje, o jovem tinha uma fisionomia de criança ternurenta, que me encantou! Elegi-o como o meu príncipe encantado (!!!) e a foto colocada dentro dum livro escolar era alvo de cobiça (!?) duma colega de liceu. Era uma brincadeira pegada, à conta do meu ídolo. Revi os tempos passados e a pompa do seu enlace com a princesa Diana Spencer. Ao vê-lo acompanhado da Camila, acudiu-me este pensamento: -Também não tinhas grande sorte, criatura!
30.04.2011