DE BICICLETA ... ADMIRANDO A PAISAGEM - 18
Marinha
MERGULHO NO POÇO DA MARINHA
Dia do trabalhador!
E trabalhadores que apreciávamos nas nossas viagens para Aveiro eram os incansáveis e esforçados marnotos. Há imagens imperecíveis, de força e beleza impressionantes.
Contudo, pedalar todos os dias, quer chovesse quer fizesse sol, era a nossa sina que a boa disposição teimava em pintar com tons de rosa. Quando chovia e ventava de tal forma que os fios de telefone assobiavam e as tramagueiras se inclinavam como que para “deixarem passar” os maçaricos, nesses dias era ver quem mais puxava para fugir à molha que nos deixava a pingar como pintainhos...
Assim um ligeiro sorriso aflora e faz-nos franzir a testa com as recordações que correm velozes ao nosso encontro, lendo parágrafos soltos de propaganda às bicicletas:
“Andar de bicicleta por Aveiro é fácil porque grande parte da cidade é plana, principalmente a zona dos canais. E bonita. O problema – há sempre a possibilidade de haver um problema – é quando a Ria enche demais. Aqui, quando a água sobe, sobe mesmo ao ponto de na baixa não se poder andar a pé nem de bicicleta. Com mais de 20 cm de altura é impossível pedalar sem molhar os pés e a qualquer momento surgem do nada enormes poças de água que mais parecem pequenas lagoas. Os cafés com esplanadas ficam com as cadeiras meio submersas e os mais desprevenidos acabam por se descalçar para melhor andarem dentro da água.
Se assistir a um espectáculo deste, procure uma zona mais alta e só volte ao Rossio quando a maré já tiver baixado. Bom, mas isso é só quando chove muito.”
Quando as coisas se apresentam assim, tudo bem; mas o caso é que nós tínhamos de andar com qualquer tempo.
E, por vezes, nem eram a chuva nem o vento os nossos inimigos...
Mais guinada menos guinada, derrapagem e salto mortal, a viagem leva-nos e só acordamos quando ao nosso lado se grita.
- Olhem, ali atrás um caiu ao poço da marinha!... - ?!
- Lá voltou para trás para mudar de roupa!...
E a gargalhada seca emperrou na garganta e deixou no ar todas as perguntas ...
Enquanto o crenco ia batendo, na cabeça martelava a frase: “caiu ao poço ... caiu ao poço...”.
Manuel