A festa da Páscoa é a nossa festa
A Páscoa desvenda (…) A vida não acaba, transforma-se; a cruz do condenado converte-se em cruz do Salvador; o futuro pertence a quem ama e não a quem apenas pensa em si; o caos cede lugar à harmonia e o medo abre caminho à esperança.
«O Senhor ressuscitou verdadeiramente e apareceu aos discípulos» 1. Esta certeza está no centro da festa mais solene do ano litúrgico e faz brotar na Igreja um hino de louvor e um cântico de acção de graças. É certeza que dá origem à fé que somos convidados a afirmar pessoalmente e a viver em comunidade. É apoio dos nossos passos firmes, alicerçados em Cristo ressuscitado, nossa esperança inabalável e segura (Heb 6, 19). É fonte inesgotável que sentido e missão à Igreja e que nós queremos assumir jubilosamente.
Com esta certeza e convicção, cheias de alegria e de paz, quero saudar-vos no Senhor e ser presença amiga e fraterna nas próximas festas pascais. Desejo sinceramente que as possais viver com os sentimentos que brilham nas aparições de Cristo ressuscitado. A hora que vivemos, marcada por acrescidas dificuldades para Portugal, exige de todos nós cristãos, à luz da Páscoa, um compromisso maior e uma disponibilidade efectiva para firmarmos os nossos passos no que é verdadeiramente essencial.
2. A festa da Páscoa do Senhor é a nossa festa. O baptismo introduz-nos na vida nova que Jesus nos oferece, que a Igreja celebra e alimenta, que a família cristã faz desabrochar e cultiva, que o esforço de cada um e o apoio da comunidade tornam possível.
O encontro com a pessoa de Jesus é fundamental gerando um modo novo de ser humano, de estar na sociedade e de servir o bem comum. A Páscoa desvenda o sentido e o alcance dos factos e o rumo dos acontecimentos. A vida não acaba, transforma-se; a cruz do condenado converte-se em cruz do Salvador; o futuro pertence a quem ama e não a quem apenas pensa em si; o caos cede lugar à harmonia e o medo abre caminho à esperança.
A partir da ressurreição do Senhor, o valor dos sinais adquire uma dimensão nova – a de indicarem a presença discreta e eficaz d’Aquele que faz aliança definitiva connosco e não desiste de estar na vida onde nos espera vestígios da sua presença; na natureza e na cultura, na educação, na investigação científica, na política, na economia, no voluntariado, na solidariedade.
Esta mais-valia dos sinais brilha, de modo especial, na vida da Igreja, na oração e na celebração dos sacramentos. É, sobretudo, na eucaristia que se verifica esta presença admirável. O nosso encontro com o Ressuscitado faz-se em comunidade que cresce na fé, na esperança e no amor, que celebra e reza, que se reanima e revitaliza, que reforça os laços de fraternidade, que se abre à sociedade e aceita ser enviada em missão.
3. O Papa Bento XVI na mensagem para o Dia Mundial da Juventude afirma que “hoje para muitos, o acesso a Jesus se tornou difícil. Circulam tantas imagens de Jesus que se fazem passar por científicas e O privam da sua grandeza, da singularidade da Sua pessoa.” E o Santo Padre intervém para reencaminhar o nosso olhar, oferecendo um contributo precioso no seu novo livro em que transmite “ um pouco do meu encontro pessoal com Jesus”.
Nesta mensagem pascal acolho com alegria esta oferta singular do Santo Padre e desejo que nos proporcione este acesso a Jesus, O Ressuscitado. Convido-vos, por isso, a fazermos uma leitura serena e contemplativa deste livro «Jesus de Nazaré» onde «se encontram as palavras e os acontecimentos decisivos da vida de Jesus».
A festa da Páscoa comporta uma riqueza inesgotável. A nossa Caminhada diocesana “Firma os teus passos. Afirma a tua fé” proposta pela Vigararia Episcopal da Educação Cristã, entra agora na segunda fase. Afirmar a fé n’O Ressuscitado é morrer para o egoísmo e viver para o amor (Rom 6, 4); é percorrer o caminho da luz, numa Igreja orante, lugar de esperança para o mundo; é assumir atitudes coerentes com a novidade que o Senhor Ressuscitado nos oferece (Col 3, 1-4).
Uma Santa e Feliz Páscoa para todos.
Aveiro, 17 de Abril de 2011.
+António Francisco dos Santos
Bispo de Aveiro