Anselmo Borges
É a primeira vez que se celebra, de 1 a 7 de Fevereiro, a Semana Mundial da Harmonia Inter-Religiosa, na sequência de uma Resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas, tomada por unanimidade no dia 20 de Outubro de 2010 e proclamando precisamente a primeira semana de Fevereiro de cada ano a "World Interfaith Harmony Week" (Semana Mundial da Harmonia Inter-Religiosa), semana da harmonia entre todas as religiões, fés e crenças. A sua adopção seguiu--se a uma proposta do rei Abdullah II da Jordânia, no dia 23 de Setembro de 2010.
A Assembleia Geral fê-lo, lembrando várias resoluções e declarações suas anteriores, todas no sentido da promoção de uma cultura de paz e não-violência, compreensão, harmonia e cooperação inter-religiosa e intercultural, diálogo entre as civilizações, eliminação de todas as formas de intolerância e discriminação com base na religião ou na crença, louvando múltiplas iniciativas a nível global, regional e local para a mútua compreensão e harmonia inter-religiosa, e reconhecendo, por um lado, a necessidade imperiosa do diálogo entre os diferentes credos e religiões em ordem a uma maior compreensão mútua, harmonia e cooperação entre os povos, e, por outro, que os imperativos morais de todas as religiões, convicções e credos fazem apelo à paz, à tolerância e ao mútuo entendimento.
A Assembleia Geral reafirma que a compreensão mútua e o diálogo inter-religioso "constituem dimensões importantes de uma cultura de paz" e encoraja todos os Estados a apoiar a difusão da mensagem da harmonia e boa vontade inter-religiosa em todas as igrejas, mesquitas, sinagogas, templos e outros lugares de culto durante esta semana, "fundada no amor de Deus e do amor ao próximo ou no amor do bem e do próximo, cada um segundo as suas próprias tradições ou convicções religiosas".
Na sua mensagem de 1 de Dezembro de 2010 sobre esta Semana, Jorge Sampaio, alto-representante das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações, depois de declarar que a Aliança procura reduzir tensões criadas por divisões culturais que ameaçam a estabilidade e a paz das e entre as comunidades e sociedades, e, por conseguinte, apoiar os esforços dos Estados, da sociedade civil e de outros actores na construção de bases de confiança e respeito entre as diversas comunidades, incluindo as religiões, saúda com entusiasmo esta Resolução das Nações Unidas. "O seu objectivo é abrangente e inclusivo, vinculando as pessoas de todas as religiões, fés e crenças." Por isso, convida os membros da Aliança das Civilizações, as organizações da sociedade civil, comunidades religiosas, escolas, universidades a informar-se sobre a iniciativa e a promovê-la.
Penso que o diálogo inter-religioso tem, como aqui tenho sublinhado, vários pressupostos. O primeiro diz que, antes de sermos religiosos ou não, somos seres humanos: une--nos a humanidade comum. Outro pressuposto essencial tem a ver com a separação da(s) Igreja(s) e do Estado e o fim da leitura literal dos textos sagrados das religiões.
Os pilares desse diálogo poderiam sintetizar-se assim: 1. Embora não sejam igualmente verdadeiras, todas as religiões são reveladas e contêm verdade. 2. Nenhuma tem a verdade toda, pois todas estão referidas ao Absoluto, mas nenhuma o possui. 3. O fundamentalismo é uma questão de ignorância ou estupidez. De facto, quem é o ser humano, finito, para ter a pretensão de possuir o fundamento? 4. O diálogo inter-religioso impõe-se pela própria dinâmica religiosa: se nenhuma religião possui a verdade toda, devem todas dialogar e exercer a autocrítica. 5. Os ateus que sabem o que isso quer dizer podem dar um contributo fundamental, já que mais facilmente se apercebem da superstição e inumanidade que as religiões podem transportar.
Tomamos cada vez mais consciência do que Hans Küng há anos vem repetindo: "Não haverá paz entre as nações sem paz entre as religiões. Não haverá paz entre as religiões sem diálogo entre as religiões. Não haverá diálogo entre as religiões sem critérios éticos globais. Não haverá sobrevivência do nosso planeta sem um ethos global, um ethos mundial."