A comunicação social tem dado a notícia dos protestos de um grupo de paroquianos que não aceita a transferência de um padre para outro cargo que lhe foi atribuído pelo Arcebispo de Braga. Entretanto, o Movimento Nós Somos Igreja veio a lume com o seu apoio, acusando a hierarquia católica de falta de respeito para com a comunidade que protesta.
Importa dizer alguma coisa sobre isto, que tem sido omitida nas informações publicadas:
1. A Igreja Católica não é uma sociedade democrática, mas hierárquica, isto é, o poder não vem do povo, mas das cúpulas hierárquicas. Nessa linha, compete ao bispo nomear os padres e leigos para as funções que julgar convenientes. E como na ordenação os padres e diáconos assumiram o compromisso de obediência ao seu bispo, os nomeados têm de cumprir, mesmo que depois possam manifestar o seu descontentamento perante o prelado;
2. Não sendo uma sociedade democrática, manda o bom senso que o bispo converse com os clérigos e pessoas das comunidades envolvidas, procurando explicar as razões que o levam a proceder a nomeações. Motivos de interesse pastoral, de renovação paroquial, de descanso para os seus colaboradores, de falta de sacerdotes em certas zonas da diocese, etc. Também importa reter a ideia de que as mudanças de sacerdotes até podem ser úteis, já que muitos, com o tempo e com o excesso de trabalho, poderão ser causa de enquistamento do trabalho pastoral;
3. Por experiência própria, posso garantir que os bispos jamais procedem a nomeações de olhos fechados e alheios aos interesses das comunidades, sendo certo que procuram dialogar com as partes interessadas, nomeadamente com paroquianos leigos. E só então, quando sentir que tudo está conforme o bem do Povo de Deus, avançará com as nomeações e transferências;
4. Pode dar-se o caso, humanamente falando, de padres estarem a fazer um trabalho menos correcto nas comunidades que lhes foram confiadas, sendo portanto legítimo que o bispo procure ajudá-los, propondo-lhes um serviço noutros ares;
5. É claro que o bispo não pode ceder a pressões, venham elas de onde vierem.Se ceder, é certo e sabido que jamais terá autoridade hierárquica na sua diocese, passando a ser um joguete nas mãos de católicos que lhe foram confiados;
6. Estou pessoalmente convencido que D. Jorge Ortiga agiu correctamente e que a sua proposta é a melhor possível, sendo indiscutível que consultou muita gente para transferir o padre em causa para outro serviço. E mais: não acredito que tenha transferido o padre Lopes sem com ele falar sobre o assunto. E o silêncio do sacerdote, neste caso, torna-o cúmplice dum mau serviço à Igreja Católica. Esclareço que ainda não li nem ouvi qualquer palavra do referido padre;
7. Portanto, estes protestos não levam a parte nenhuma e só perturbam as pessoas menos esclarecidas. Aliás, uma pessoa minimamente informada não se mete na rua com estes cartazes, mas pode e deve dirigir-se, pessoalmente ou por escrito, ao seu bispo, manifestando a sua tristeza por ver partir o seu pároco para outra função. Se o fizer delicadamente, D. Jorge Ortiga não deixará de a ouvir
Fernando Martins