O Sporting sofreu ontem uma pesada derrota. Foi a segunda grande derrota seguida com o mesmo clube alemão. Alguns adeptos, furiosos, protestaram veementemente contra os jogadores, equipa técnica e dirigentes. Houve insultos intoleráveis numa sociedade civilizada. Sempre aprendi que saber ganhar e saber perder faz parte das regras do jogo. Mas nem todos entendem isto.
Julgo que temos de nos habituar a aceitar o jogo com todas as suas contingências. E os dirigentes, técnicos e jogadores como homens, sujeitos a errar, mas gente honesta. Dão aquilo que sabem e podem, mas não podem fazer milagres. A equipa do Sporting deu o que pôde dar. E a mais não é obrigado.
Tenho visto, a nível do desporto, e não só, a "cultura" de que somos os melhores do mundo. A comunicação social não deixa de dar a sua ajuda. E depois, o povo, que vai nesta onda, acredita. Mas não somos, de facto, dos melhores. Somos bons em algumas coisas, mas também somos maus noutras. É assim em todo o mundo.
As equipas portuguesas de futebol estão muito atrás das equipas espanholas, italianas, alemãs e inglesas, por exemplo. Nos campeonatos de futebol desses países, as nossas equipas, quando muito, teriam lugar numa divisão de honra, que não na Liga de topo. Os nossos clubes são o que são à medida das nossas realidades. Na passada semana foi dito que os três grandes (Sporting, Benfica e Porto) apresentaram défices astronómicos, que só as constantes negociações com empresários e a complacência dos bancos permite manterem-se vivos. Mesmo assim, há clubes que não pagam, com regularidade, aos seus técnicos, jogadores e demais funcionários.
O Sporting está numa situação difícil. Muitos dos melhores jogadores deste país passaram pelo clube, mas, quando começam a dar a vistas, são comprados por quem mais lhes pode pagar. Está, por isso, a reformular a equipa, ano após ano. Isto gera uma enorme instabilidade, bem visível nas notícias que nos chegam. Não é possível fazer mais nestas condições de incerteza e de insegurança. Os bons resultados não podem nascer num clima destes.
E como não podem, há que ter calma, na esperança de que o futuro próximo comece a melhorar. Mas com guerras, insultos e provocações não se vai a lugar nenhum.
Fernando Martins