O número de idosos aumenta na nossa sociedade e cresce a preocupação de realçar o seu valor e o seu contributo social.
Chega-se mais depressa à aposentação, vive-se mais tempo, existem melhores condições para defender a saúde, multiplicam-se iniciativas estimulantes que fomentam o interesse pela aprendizagem e aumento da cultura, proporcionam-se tempos de lazer que antes eram impensáveis, conta-se com a gente mais idosa para muitas actividades de voluntariado, os avós voltaram a ocupar um lugar na família que parecia esquecido, publicam-se livros e artigos em revistas sobre eles.
De figuras antes quase anónimas, os idosos passaram à ribalta das muitas atenções e preocupam-se com eles os políticos, as autarquias, as paróquias, o mundo da publicidade. Por razões diversas, é certo, mas a verdade é que se fala e se escreve sobre os idosos como nunca se havia feito. Há culturas onde os idosos são a expressão viva do património mais válido e mais significativo, os mestres por excelência, dado que, por vezes, mais se aprende com pessoas experientes e sábias, do que em livros eruditos.
Há um mundo numeroso de idosos internados em lares. Embora estes tenham cada vez melhores condições para os acolher, a verdade é que escasseia, frequentemente, a presença da família e o carinho dos filhos, a que têm direito e que ninguém compensa.
O ideal "Viver mais e melhor", título de um livro publicado há dois anos pela Editorial Presença, com o sub título "Uma longevidade activa na sociedade actual", ajuda a ver, a nível do corpo, do espírito e da sociedade, o caminho a seguir para que a vida dos idosos tenha mais sentido e qualidade.
Muitas paróquias, que vão na vanguarda das soluções sociais, parece não terem ainda sentido a necessidade de uma pastoral concreta com os idosos e para eles, que os ajude a crescer espiritualmente, lhes dê dimensão apostólica, os integre na comunidade com a riqueza da sua experiência, a sabedoria dos anos vividos e das dificuldades superadas.
Nasceu há décadas em França, e hoje está espalhado pelo mundo e que chegou já a diversas dioceses de Portugal, o "Movimento Vida Ascendente", que também se chama "Movimento Cristão de Reformados". O seu tripé é realista e aponta horizontes novos: Amizade, Espiritualidade, Apostolado.
A estrutura não é complicada e adapta-se, sem dificuldade, à idade e à mentalidade dos seus membros.
O realismo das comunidades cristãs não deixa que se menospreze ninguém que delas faz parte. Nem a atenção dos responsáveis lhes permite privilegiar apenas as crianças, os jovens ou os adultos, em fase de compromisso familiar ou profissional. Na Igreja, como na sociedade, os idosos são, também eles, protagonistas da sua história e da história do grupo ou da comunidade humana e cristã onde vivem e se inserem. Têm direito a serem ouvidos, a iniciativas que lhe dizem respeito, ao crescimento diário da sua vida e à participação nas actividades compatíveis da paróquia.
Não escondo o incómodo ao ver nas festas de Natal e de Carnaval, os idosos como se fossem crianças, quando levados a participar, em palco, nas brincadeiras próprias do tempo. O que vestem e o modo como falam e representam não é o deles. Uma reflexão séria sobre o seu mundo e o mundo das suas possibilidades, levá-los-ia, por certo, a outros modos mais consentâneos e respeitadores de participar.
O facto de haver hoje mais idosos, válidos, experientes e lúcidos, com capacidades, por todos reconhecidas, é um "sinal dos tempos" que necessita de leitura adequada e consequente. Se a Igreja acordar, ajudará outros a acordar também.
António Marcelino