"O povo que se instalou na Gafanha era gente pobre. Foi no século XVII que os primeiros, como caseiros, começaram a agricultar estes areais. Acossados certamente pela fome, no dizer do Padre João Vieira Rezende, procuraram melhores condições de vida. As areias não os assustaram, já que a elas andavam de certo modo habituados. A instalação não deve ter sido difícil.
Era gente não muito exigente e com grande capacidade de sacrifício e de adaptação. As casas de habitação eram modestíssimas. De madeira ou de barro amassado com felga, limitar-se-iam à cozinha e a um ou outro compartimento que servia de quarto de dormir. As camas seriam esteiras ou pobres enxergas estendidas sobre bicas ou junco.
Outras divisões e comodidades só muito mais tarde. Mas deixemos hoje estas coisas, aliás curiosas, e falemos da agricultura dos gafanhões dos fins do século XIX. Dos outros pouco reza a história.Terra para cavar não lhes faltava e vontade de a fazer produzir também não.
A ria logo os atraiu, não tanto para a aventura da pesca, mas para o aproveitamento do que ela de mão beijada lhes oferecia: o moliço. Rapado na borda por ancinhos de dentes de madeira, lá ia curtir nos areais à espera da hora das sementeiras."
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Fernando Martins