E o lugar das grandes questões?
1. São as grandes perguntas que conduzem às grandes respostas. Frequentemente, em trabalhos com as mais novas gerações, deparamo-nos com um “sinal” destes tempos: muitas vezes estamos tão preocupados e preparados em dar as grandes “respostas”, todavia, a perguntas que nem sequer existem… Quantos caminhos de possíveis e urgentes reflexões a serem realizadas não partem do ponto de partida? Quantas oportunidades perdidas (ou pelo menos adiadas) em darmos passos adiante naquilo que é o reflectir para desenvolver mais e melhor a qualidade de humanismo, de valores, das relações, da própria democracia em pluralismo, e, em última (e primeira instância), do próprio sentido da vida?!
2. A par da resposta de que “não há tempo”, a onda vai mais no sentido das “coisas” que da ordem do pensar as grandes questões do nosso tempo. De quando em quando, isso sim, quando uns “safanões sociais” lideram as notícias, então aí apercebemo-nos de que temos de construir alicerces…mas logo tudo passa! Das coisas mais alarmantes quanto ao futuro, algo talvez nunca visto (até porque as “juventudes” são fenómeno recente na vida das sociedades), é um vazio “à deriva” em termos de ideias e práticas. É um facto preocupante que, para além de haver sempre uma elite solidária esforçada em causas (claro!), a “grande massa” recebe pouco dessa chama e vive uma indiferença aprendida também por gerações precedentes e pelos “fáceis” modelos sociais reinantes.
3. O próprio valor das palavras vai-se abrindo a novas dimensões, e mesmo aquilo que era o “entretenimento” há uma década, hoje, em determinados quadrantes de vidas, ocupa um lugar não periférico mas é centro da vida. Como que a “brincar”, as coisas vão mudando, e caminhando para a superficialidade do não se perguntar sobre os “grandes porquês”. Dizemo-lo sem pessimismos…como se o “antes” fosse sempre melhor; falamos com realismo preocupante no sentido de que parece que tardamos a compreender que os problemas deste século XXI não são tecnologias nem ciências, são sim “relacionamentos”. Ou será que só na tempestade dos “11 de Setembro” despertamos para além do visível?...
4. Enquanto não conseguirmos criar uma “ponte” que ilumine de referenciais estimulantes a “massa social” em torno das grandes questões (que são culturais e éticas), o tempo da vida fica aquém, ou vai-se mesmo distanciando, de um ideal de fraternidade; valor este proclamado no estado de direito há mais de dois séculos, mas só numa iluminação superior de há bem mais séculos é que se pode inspirar, compreender e viver. As grandes questões têm de existir, se não existem têm de se provocar. A fim da apatia anémica não triunfar. Afinal, é o desígnio de uma sociedade aberta, participativa e solidária, o decisivo teste às juventudes de hoje!
Alexandre Cruz