nas sociedades de hoje?
É sabido que o Governo está a procurar alterar a legislação em muitos sectores, nomeadamente na Saúde e na Justiça. Diga-se, para já, com protestos vindos de todos os quadrantes políticos, inclusive do próprio partido que sustenta o executivo de José Sócrates. É legítimo que o faça, em obediência ao mandato que recebeu dos portugueses e às exigências que o défice das contas públicas impõe, já que caminhávamos, a passos largos, para o caos económico e financeiros. Importa, porém, questionarmo-nos sobre os limites que o Governo deve ter em conta, pois não se pode, de um dia para o outro, deitar a casa abaixo para depois se construir outra casa descaracterizada e onde não caiba toda a família.
Hoje e aqui gostaria de abordar uma consequência das leis em construção ao nível da Justiça e da Saúde, leis essas que pretendem relegar para segundo plano a importância do espiritual. Os padres da Igreja Católica e os ministros de outras confissões religiosas ficariam sem condições dignas para prestarem apoio às pessoas internados nos estabelecimentos prisionais e nos hospitais públicos. Quando o legislador pretende sugerir, por exemplo, que o apoio espiritual tenha lugar apenas durante o horário das visitas, em horas de alguma agitação, e a requerimento dos internados, vê-se logo que não faz a mínima ideia do que é uma missão dessas. Deve ser uma pessoa que nunca na vida precisou de ajuda a esse nível e que nem sequer reconhece o valor do espíritual e do religiosos na construção do homem todo e de todos os homens.
Há quem defenda que o legislador tem de ser um pouco cego, frio, insensível, posicionando-se acima de tudo e de todos. Não posso admitir tal posição. Legislar contra a maré, contra as pessoas reais que constituem, há séculos, este nosso País, indiferente aos seus valores e tradições, à margem do bom senso, é destruir a alma do povo que somos. Será, então, que o espiritual não terá lugar nas sociedades de hoje? Será que o Governo não quer olhar para o povo?
Fernando Martins