HÁ QUEM CULTIVE
O PRAZER DA MALEDICÊNCIA
Nas democracias, sobretudo nas mais maduras, é normal haver respeito pela liberdade de cada um, liberdade essa que não invade a liberdade dos outros. Também é óbvio que o direito de opinião deve ser respeitado. Acontece, porém, que muita gente pensa que, por respeito a esses direitos, cada um pode dizer e fazer o que quer e o que lhe apetece, mesmo com ofensas gratuitas e brincadeiras de mau gosto.
Tenho dificuldade em aceitar e em viver num clima desses. Criticar o que está mal, apontar erros e avançar com propostas para uma vivência democrática mais sã e mais justa está muito certo. Mas será que isso implica a ofensa, a calúnia, a mentira, o boato e a pura má-língua?
Portugal vive, de há meses a esta parte, um clima impensável para uma democracia decente e respeitadora dos mais elementares direitos dos cidadãos. Por tudo e por nada, correm na Internet as mais aberrantes calúnias e as anedotas mais estúpidas e ofensivas das pessoas. Quando as pressinto, atiro-as logo para o lixo. Mas sei que há muita gente que adora difundi-las, só pelo prazer de cultivar a maledicência. Paralelamente, há mensagem lindíssimas e informações oportunas, que dá gosto ler e meditar.
Agora as brincadeiras de mau gosto têm vindo ao de cima, envolvendo membros do Governo. Processos judiciais e demissões estão na moda. Não sei se será mais grave isso ou permitir que esse ambiente continue, criando instabilidade nos departamentos estatais. Nas empresas privadas não há tempo, decerto, para atitudes semelhantes, que eu saiba.
Gente a acusar-se mutuamente de forma torpe, não estará correcto. Pactuar com ela, também não. Cá para mim, tudo isto só é possível por haver quem, em vez de trabalhar, passa a vida com mexericos, alimentando ataques pessoais e guerras partidárias.
Quando os políticos da UE se instalarem por cá e quando começarem a olhar para este clima de brincadeira pegada, com que ideia ficarão dos portugueses?
Fernando Martins