A PACIÊNCIA DO ESPÍRITO SANTO
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Sou do tempo das missas em latim, com o celebrante de costas para a assembleia. Isto aconteceu na Igreja Católica durante séculos, por razões que não importa agora recordar. Imagino que o Espírito Santo teve, durante esse tempo todo, uma paciência incrível para segurar o povo dentro das igrejas, à espera que os celebrantes acabassem de ler e dizer uma frases em latim, que quase ninguém entendia. Entretanto, as pessoas iam tendo a percepção de que era importante orar e, pelo sim pelo não, lá iam rezando o terço até à bênção final. Quando eu era garoto, nem homilias havia com regularidade na Gafanha da Nazaré.
Depois do concílio Vaticano II, convenci-me de que as eucaristias, nas Línguas das gentes com quem e para quem eram celebradas, jamais deixariam que desenterrassem o latim para as liturgias comunitárias e dirigidas ao povo. Pelo que sei, ainda há católicos saudosistas desses tempos. Há tempos alguém falava-me da importância do mistério que representava a missa em latim.
O Santo Padre, que agora aprovou a possibilidade de serem celebradas missas segundo o rito anterior ao Vaticano II, possivelmente até em latim, estará a admiti-las, certamente, para casos especiais ou para grupos restritos ou, provavelmente, para celebrações com participantes de várias nações. O pior, a meu ver, será se a moda pega e se, por tudo e por nada, alguns sacerdotes se convencem de que as missas em latim são mais bonitas e mais misteriosas, e também, por isso, com mais capacidade para aproximar as pessoas de Deus e dos irmãos. Cá para mim, espero que a moda não pegue. Já imaginaram estarmos a participar numa eucaristia, sem percebermos nada do que o celebrante está a dizer?
Fernando Martins