AZUL OU COR-DE-ROSA?
Caríssimo/a:
Há certas notícias que nos deixam a olhar para elas como se fossem algo de muito estranho. Olha para esta:
“Está a nascer, na China, uma cidade que recupera o ideal de poder matriarcal do clã das Amazonas. Nesta cidade mandam ELAS! “
Como se isto fosse uma grande novidade!?
Vamos ver o que escreveu Bernardo Santareno, na década de 50, do século passado. É só espreitar «Nos Mares do Fim do Mundo», entre as páginas 229 e 235. Apenas duas imagens de relance:
“Nas Gafanhas da Nazaré, da Encarnação, na d'Aquém, na do Carmo, na Vagueira,... em todas as Gafanhas de Ílhavo, as mulheres amanham a terra, durante o tempo (às vezes, dez meses por ano!) em que os homens pescam o bacalhau nos mares distantes da Terra Nova, da Gronelândia, da Costa do Labrador. Elas cavam, semeiam, ceifam e colhem: duramente, com sanha viril. E assim se bastam e aos filhos. Quando o marido vier da campanha, encontrará a casa cheia como um ovo; e branquinha, sem sombra de dívida: Então com a ajuda de Deus, ele poderá comprar mais um pedaço de terra.
É assim com o Ribau, com o Chibante... com muitos outros. Com o Sarabando, também gafanhão e dos sete costados, não será bem assim: muitos filhos e todos pequenos ainda. Mas já alguém o viu triste, ao nosso Sarabando? Eu cá, nunca. Pobrete, mas alegrete.”
E mais abaixo (falar do capitão... é falar de todos, pescadores incluídos):
“O nosso capitão Viana recebeu hoje uma boa nova: o filho passou para o segundo ano do liceu.
Está muito contente, é claro.
A propósito confidenciou-me que, todo somado o tempo de terra, talvez ainda não tivesse vivido quatro meses com o filho: e o rapazinho, agora, já tem onze anos!
Se ele no próprio dia em que se casou (às dez horas da manhã), logo teve que sair (às quatro da tarde) para o mar! Ai, a vida dum pescador...
Assim, os pequenos foram crescendo, ele envelhecendo, e a companheira de sempre também: Separando-o da mulher, das crianças, o mar.
Isto, uma vida inteira. Foi «ela» quem educou os filhos de ambos, quem lhes escolheu caminhos de vida, quem lhes serviu de exemplo impecável. Ela, sozinha: humildemente, em silêncio, como coisa natural e simples.»
Será caso para perguntar:
Azul ou cor-de-rosa?
A minha resposta é: pela VIDA!
Manuel