A Canção dos Adultos
Parece que crescemos mas não.
Somos sempre do mesmo tamanho.
As coisas que à volta estão
É que mudam de tamanho.
Parece que crescemos mas não crescemos.
São as coisas grandes que há,
O amor que há, a alegria que há,
Que estão a ficar mais pequenos.
Ficam de nós tão distantes
Que às vezes já mal as vemos.
Por isso parece que crescemos
E que somos maiores que dantes.
Mas somos sempre como dantes.
Talvez até mais pequenos
Quando o amor e o resto estão tão distantes
Que nem vemos como estão distantes.
Então julgamos que somos grandes.
E já nem isso compreendemos.
Manuel António Pina,
a fechar a colectânea poética
"O Pássaro da Cabeça"
(1985; 2ª ed. – 2005).