terça-feira, 17 de outubro de 2006

Um artigo de António Rego

A palavra Missão ganhou maior complexidade e, associada a outros factores de mudança, como que leva a pensar duas vezes antes de dar a vida por inteiro pela causa do Evangelho em terras e culturas longínquas
O passado não se repete
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A celebração do Dia Mundial das Missões como tempo de reflexão e oração traz sempre ressonâncias históricas de grande alcance ao longo destes 2000 anos. Não fora a chamada e a coragem na resposta, o cristianismo seria uma frustrada parábola de semeador com semente à beira do caminho ou entre espinhos.
Partir, romper fronteiras, anunciar a propósito e fora de propósito, arriscar a própria vida, cruzar culturas e religiões com a fé cristã, perceber os sinais e exigências de cada tempo, dar tudo pela causa do Evangelho, tudo isso foi acontecendo no correr dos séculos, até aos confins da terra onde se crê e celebra o Evangelho e se institui Igreja como lugar de encontro de Deus com os homens. Nada se fez sem perturbações e falhas mas nada se conseguiria sem uma fé inquebrantável e uma entrega radical. Por isso em cada nova celebração do Dia Mundial Missionário perguntamos pelo nosso tempo, pela nossa vez, pela Igreja que somos, pelas novas viagens, pelas nossas formas de anunciar a Boa Nova. Algumas vezes tudo parece refrescado pelo novo empenhamento de leigos que, nos mais variados carismas, vão respondendo com gestos de apoio ao desenvolvimento, educação, erradicação da pobreza, entrega generosa de tempos e competências em nome e consequência da fé cristã assumida de forma adulta.
Mas também se sente que os condicionamentos culturais, políticos e religiosos aliados à sensibilidade dos novos tempos, como que demo-veram muitos da viagem incerta ao outro lado do planeta onde Jesus Cristo não é conhecido.
A palavra Missão ganhou maior complexidade e, associada a outros factores de mudança, como que leva a pensar duas vezes antes de dar a vida por inteiro pela causa do Evangelho em terras e culturas longínquas. Não parece boa solução culpar o nosso tempo por todos os males como se já não houvesse entre os vivos um único fragmento de bondade e tudo se reduzisse às maldições que caem sobre a pós - modernidade.
Importa não ser primário nem redutor. O nosso tempo tem, como todos, sinais intensos do Espírito e carismas originais da história. Importa reflectir com os dados da nossa realidade, sublime e mesquinha como todas as épocas. E recolher humildemente sinais que os novos tempos nos oferecem como verdadeiros desafios à missão. Para que não fiquemos a soluçar a incapacidade de repetir o passado.
O passado não se repete. Recria-se.

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