quarta-feira, 13 de setembro de 2006

Um artigo de Alexandre Cruz

5 anos depois 11-09
1. Assim foi e assim será nos anos de vida das próximas gerações. O calendário ao assinalar “11 de Setembro” convida-nos aos minutos de silêncio e meditação sobre como “como vamos de mundo”. São infindáveis as reflexões destes dias sobre tudo e mais alguma coisa, o antes, o durante e o depois; das análises da geopolítica, à abordagem da tecnologia militar e arquitectura das torres; da filosofia e história das religiões até às concepções de história contemporânea com esta página aberta que não deixa ninguém insensível. Tudo foi escalpelizado, mas talvez mesmo o que valha e pena seja compreender mais as raízes do “ground zero”, as razões do acontecimento que continua a comandar o mundo. 2. Quanto a consequências, ao que mudou… tudo mudou! Para alguns analistas regressámos, na resposta unilateral anglo-americana, ao pré-revolução francesa, onde o estado de direito é “abalado”, a comunidade (e o seu direito) internacional apresentara-se insignificante e a “lei da força” explícita regressa a marcar o ritmo. Estes dias foram oportunidade de (re)parar fazendo leituras de pormenores que mudaram há cinco anos: pela segurança apertada sabe-se que qualquer muleta, corta unhas, pode fazer parar um avião; diz-se mesmo sem complexos que após o 11 de Setembro “ser pessoa com deficiência” é ainda mais difícil pois a desconfiança nos aeroportos e não só generalizou-se. Quem não se lembra na altura do pânico do “antrax” nas caixas Multibanco… 3. Há cinco anos, diante dos escombros do símbolo (as torres gémeas) do proclamado império do ocidente (EUA), e ainda com todo o fumo a desafiar o pragmatismo americano da cidade modelo (NY), dizia-se que talvez fosse “hora” dos cinemas de Hollyood silenciarem a sua “máquina de guerra” e procurassem por todos os meios implementar uma Cultura da Paz. Qual quê, sendo certo que a vida tem de continuar mas…, cinco anos depois, na irresistível encenação americana, os filme de guerra não pararam e começam mesmo a abundar películas de cinema com a tragédia americana; talvez seja uma forma de cartoonizar exorcizando a realidade… 4. No meio de tudo e na gestão de tão complexo fenómeno daqueles dias, onde a “emoção” supera a anos-luz a “razão”, em temos de racionalidade política as contas continuam e ficarão perplexas. O Iraque invadido à força pelo casamento dos EUA com a Inglaterra, com o pretexto de encontrar as famosas (mas invisíveis) “armas de destruição maciça”, politicamente deixam para a história da política internacional como a guerra e o “combate do outro” vence em eleições todas as “mentiras”. (Democracia não é necessariamente sinónimo de “verdade”…e quando a mentira vence descredibiliza-se a “política”.) Agora que Blair e Bush estarão quase a terminar a sua missão, entre o real e o possível, fica o sabor amargo. Como serão os sucessores, que correcção histórica lhes será possível? Por muito que tudo se diga, a verdade é que precisamos dos EUA regenerados no tabuleiro do xadrez político do mundo global. 5. Em tudo o 11 de Setembro fica registado na nossa memória com o traumatismo de algo “perdido”. Perderam-se vidas, famílias, sentido de abertura e confiança na partilha de culturas de que era paradigma o coração da América, World Trade Center; perdemos a “liberdade” que encontrámos talvez também porque não lhe tenhamos dado melhores “fundações” de conhecimento mútuo e reciprocidade no aprender a “viver juntos”; perdemos, no unilateralismo anglo-americano, a oportunidade da ONU ser o gestor da Nova Ordem Mundial emergente que instaurasse sentidos de justiça (e justa distribuição dos bens) para então ser possível a paz; perdemo-nos, nós, no esforço de compreender o incompreensível, quando a razão humana é bloqueada pelos fundamentalismos que existem e persistem em todo o lado (tanto nas causas como nas consequências, não é só “lá” que existem fundamentalismos e intolerâncias; e não se pense que é só no campo religioso, existem fundamentalismos de visões sociais, políticas, científicas…que impedem a abertura plural ao “outro”, cegando a possibilidade do atingir de modo inclusivo um bem comunitário maior, em justiça e com autêntica liberdade (responsável e respeitadora). 6. Futuro? Claro, ele está aí todos os dias! Soubemos por estes dias que o presidente do Irão (o indizível “observador” atento do mundo, a ir à boleia nesta catadupa de acontecimentos…) há meses, quando do episódio dos cartoons de Maomé, lançou “concurso nacional” de cartoons sobre o holocausto. Amor com amor se paga!... Fascinante mas lamentável mundo… também em que tantas vezes perdemos a “sensibilidade do outro” e na nossa ingénua concepção de “liberdade” ateamos fogos evitáveis no desrespeito pelos valores do “outro”. 7. Cada vez mais o futuro, e falar de futuro é falar do futuro da liberdade, está na vivência compreensível do dia-a-dia! Precisamos mais de compreender a realidade que nos envolve e que somos… A força das armas nunca será caminho de construção com futuro, às vezes abre mais feridas. Uma boa parte deste futuro de esperança que reequilibre este lindo planeta residirá numa ONU renovada; esta deve ser o centro do mundo, com o contributo inclusivo de todas as forças vivas e construtivas, também das grandes Filosofias e Religiões da Humanidade, estas tantas vezes perdidas ou “entretidas” nas suas vírgulas e “umbigos” retardando a essencial “identidade na pluralidade”, com autêntico espírito de serviço à Humanidade. Humanidade que Deus ama e mesmo “assume” para a diversidade dos Cristãos. É mais o que une que o que separa, vamos, mais em espírito ecuménico! O mundo passa! A velocidade deste tempo não se compadece com um “ir andando”…! (Mas…que bom seria que a ONU encontrasse um “poço de petróleo” para se auto-sustentar sem “mendigar” às potências mundiais!...)

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