O terramoto do século XXI
As notícias de hoje são uma espécie de predadores da nossa quietação mas ao mesmo tempo vasto campo de reflexão sobre temáticas que, em abstracto, seriam constantemente adiadas.
De concretos anda o mundo cheio, é verdade. Mas o que acontece sempre deixa margem a questionamentos que de outra forma ficariam à espera de vez. O terramoto de Lisboa de 1755 foi, no facto, instantâneo. Na repercussões lento e profundo em réplicas que ainda hoje se fazem sentir. Temos percebido que o 11 de Setembro de 2001 sacudiu muitos conceitos e preconceitos adormecidos no turbilhão de factos e nos betões e ferros de muitas torres que continuamente se levantam e derrubam.
A palavra terrorismo ganhou um significado de que quase já nos havíamos esquecido - era assim que se chamava aos lutadores pela independência das colónias. Existiu e existe nos senderos, esquadrões, brigadas, e tantas formas de chacinas cruéis a inocentes, em terra, mar e ar. Mas a forma de combater esta calamidade observa-se sob diferentes ópticas. Ainda há quem distinga o bom do mau terrorismo, consoante o vento ideológico que o sopra. Sabe-se que o diálogo tem pressupostos de honestidade bilateral. Quantos acordos de paz se fizeram na história com outras tantas roturas. Tudo se pode recobrir com a capa das palavras e gestos.
Quando se trata de prender, interrogar e julgar suspeitos de actos terroristas parece que, para alguns, a justiça e os direitos humanos não passam de gestos líricos ou discursos de circunstância. É tanta a raiva contra os criminosos que parece tornar-se legítima a prisão arbitrária, interrogatório e tortura a quem junte vagos indícios de proximidade a qualquer atentado. Aqui se enquadram as prisões secretas que se povoam com viagens mistério dos aviões da CIA. Aqui se escondem direitos humanos, dignidade das pessoas, necessidade duma justiça e direito que se distanciem da prepotência de meios para procurar os criminosos.
Nas muitas reflexões surgidas no quinto aniversário do 11 de Setembro algumas vozes sensatas têm apontado para um objectivo talvez longínquo mas nobre: aprofundar pacientemente o diálogo entre o Ocidente e o mundo Árabe, sem deixar de fora os países mais radicais na interpretação do Islão. A experiência tem dito que a violência apenas produz violência. E que isso é mau para todos.