Os tecidos
do sagrado
O fio da história, como a caminhada de cada ser humano, não se percorre em linha recta. Antes, e visto sobretudo da altura de Deus, se constrói em sinuosidades desconcertantes, fazendo dos dias e dos séculos pretextos constantes de evolução.
Somos compostos de micro - seres e de átomos e células surpreendentes que se movimentam segundo leis que os grandes investigadores muito pouco conhecem.
Estão em recriação contínua nos novos circuitos que cada pessoa, povo ou civilização vai descobrindo e tecendo sob o olhar paciente de séculos e milénios.
Há alturas em que tudo parece repetitivo e fatalmente cíclico. Outros tempos há em que os sobressaltos explodem em todas as direcções, lançando pânico ou festa na humanidade que se reencontra com o cosmos a que pertence e sempre o ultrapassa pela força anímica e inteligente que vence as energias que se entrechocam na evolução do universo.
Nada, todavia, rola às cegas. O homem é o senhor da criação e Deus o Senhor do homem. Por isso a dimensão do sagrado parece escapar a todos os cálculos e predestinações, dando lugar à surpresa constante de Deus numa história que, aparentemente monótona, sempre se refaz na liberdade do homem.
O divino, o sagrado, o transcendente, o invisível, invadem o nosso mundo tanto o chamado desenvolvido, como aquele que ainda não saiu do animismo ou do panteão dos mitos, nem teve acesso ao pensamento elaborado do oriente e do ocidente. A verdade é que, não obstante aquilo a que chamamos a Revelação como Palavra de Deus, crescem as buscas marginais, intimistas, puramente psicológicas, no encalço de energias que toquem a alma e o corpo e sublimem as vidas repassadas de angústias e depressões. Por isso o religioso se converteu muitas vezes em feitiço que exorciza fantasmas e oferece, noutro quadrante de procuras, uma felicidade serenante, imune à chuva dos males que atingem todo o ser. Dir-se-ia que se troca Deus por um objecto a que se chama religioso mas que não passa dum unguento rançoso que alivia sem curar e promete sem cumprir.
Neste terreno trabalham muitos curiosos do espírito. A estes feitiços ainda dão crédito muitos baptizados que não entenderam o segredo da salvação derramado no Baptismo.
Aí está a originalidade: Cristo é a referência fundamental de salvação. Para os cristãos, o religioso é Ele. Apenas Ele.