quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

Um texto de Alexandre Cruz

“Coisas” da nossa democracia
::
Democracia é uma das palavras mais caras. Ainda em muitos povos, a democracia é uma das lutas mais sofridas. Às suas custas, para que ela venha à luz do dia, muitos foram e são perseguidos, silenciados, torturados, mortos. Das tentações do domínio do outro, do poder absoluto, da autoridade exacerbada, da ditadura que não reconhece a diferença, tudo é possível, pois, no limite, não se olha a meios para atingir fins. E são, infelizmente, muitos os retratos de desumanidade que flagelaram milhões de vidas, cujo rio sangue foi abrindo o sentido da igual dignidade entre todos os seres humanos. Em épocas políticas especiais, como a que atravessamos, é sempre interessante entreabrir o dicionário e repararmos mais na palavra “democracia”. Fala-nos da ideia de “povo que é soberano”, ideal que nasceu também como reacção ao poder só de alguns (oligarquia); desperta-nos para um nível de responsabilidade colectiva, onde ninguém está a mais (o Estado é de todos!), mas onde todos têm deveres para com a comunidade (como o dever cívico de votar, a sociedade precisa mesmo de todos!).
Talvez, neste contexto, faça sentido mesmo perguntar se a democracia, simplesmente, anda por si própria? Ou se precisará mesmo dos cidadãos? Que sentido de pertença e construção democrática vai reinando na sociedade portuguesa, e como interagem os diversos actores numa ideal respeitabilidade social recíproca? Bastará dizer “democracia” e está tudo feito?!... De modo algum. Quanto maior é a liberdade maior será a responsabilidade. Uma responsabilidade que deve perpassar, no máximo possível, permanentemente na vida social, em tudo quanto se diz, escreve, fotografa, gere.
Na presente caminhada de discernimento sobre o futuro próximo em termos de presidência da República alguns factos continuam a demonstrar algumas “coisas” menos felizes da nossa democracia, sinal de que há sempre caminho para andar. Se é certo que, numa linguagem inclusiva e com respeito, é essencial o debate sobre projectos do que poderá estar em jogo nas funções da presidência da república, contudo, tantas vezes, o ambiente em vez do saudável debate passa à luta feroz do ataque pessoal ao outro, espelhado por vezes mesmo nas generalidades da ausência de projecto. Mas esta relativa “falta” democrática, sintoma de carácter ideológico de forças silenciosas que têm o seu interesse próprio, passa também pelo desigual tratamento de imprensa, sendo claramente no mínimo de desconfiar até da escolha fotográfica para as capas de jornais, em que tendo um candidato ao longo do dia muitos rostos…porque é que se escolhe uma pose e não outra?! Mas se olharmos aos conteúdos em debate, de todos os lados, pouco têm de presidência e muito mais têm de governo. (E todos criticam o facto, mas todos o fazem.) O que é que estará em causa nestas eleições? Andamos desfocados! E quando se fala de crise, porque é que se leva logo para a crise económica…quando essa área é da responsabilidade do governo? E quando vemos que todos os candidatos falam de economia…porque é que não se acusam todos de economicismo? E se é mesmo a eleição da primeira figura de Estado, em que numa democracia madura o debate entre todos os candidatos seria um pressuposto lógico… para quando os debates com o sexto candidato? Há democracia para todos, ou é só para alguns?!
Há qualquer coisa de esquisito e de condicionado que turba a pureza democrática (sinal de que há muito caminho a andar em sensibilidade de acção política como serviço autêntico e generoso ao bem comum), sendo logo de reparar nas questões das “máquinas” e nas gritantes desigualdades entre os candidatos. Há algo que se sente que torna inútil o debate aberto, o que é mau demais para ser verdade. Estaremos a perder a capacidade de conversar sobre o que somos e que queremos ser? E não esqueçamos que às novas gerações de cidadãos políticos cada campanha é uma escola…

Etiquetas

A Alegria do Amor A. M. Pires Cabral Abbé Pierre Abel Resende Abraham Lincoln Abu Dhabi Acácio Catarino Adelino Aires Adérito Tomé Adília Lopes Adolfo Roque Adolfo Suárez Adriano Miranda Adriano Moreira Afonso Henrique Afonso Lopes Vieira Afonso Reis Cabral Afonso Rocha Agostinho da Silva Agustina Bessa-Luís Aida Martins Aida Viegas Aires do Nascimento Alan McFadyen Albert Camus Albert Einstein Albert Schweitzer Alberto Caeiro Alberto Martins Alberto Souto Albufeira Alçada Baptista Alcobaça Alda Casqueira Aldeia da Luz Aldeia Global Alentejo Alexander Bell Alexander Von Humboldt Alexandra Lucas Coelho Alexandre Cruz Alexandre Dumas Alexandre Herculano Alexandre Mello Alexandre Nascimento Alexandre O'Neill Alexandre O’Neill Alexandrina Cordeiro Alfred de Vigny Alfredo Ferreira da Silva Algarve Almada Negreiros Almeida Garrett Álvaro de Campos Álvaro Garrido Álvaro Guimarães Álvaro Teixeira Lopes Alves Barbosa Alves Redol Amadeu de Sousa Amadeu Souza Cardoso Amália Rodrigues Amarante Amaro Neves Amazónia Amélia Fernandes América Latina Amorosa Oliveira Ana Arneira Ana Dulce Ana Luísa Amaral Ana Maria Lopes Ana Paula Vitorino Ana Rita Ribau Ana Sullivan Ana Vicente Ana Vidovic Anabela Capucho André Vieira Andrea Riccardi Andrea Wulf Andreia Hall Andrés Torres Queiruga Ângelo Ribau Ângelo Valente Angola Angra de Heroísmo Angra do Heroísmo Aníbal Sarabando Bola Anselmo Borges Antero de Quental Anthony Bourdin Antoni Gaudí Antónia Rodrigues António Francisco António Marcelino António Moiteiro António Alçada Baptista António Aleixo António Amador António Araújo António Arnaut António Arroio António Augusto Afonso António Barreto António Campos Graça António Capão António Carneiro António Christo António Cirino António Colaço António Conceição António Correia d’Oliveira António Correia de Oliveira António Costa António Couto António Damásio António Feijó António Feio António Fernandes António Ferreira Gomes António Francisco António Francisco dos Santos António Franco Alexandre António Gandarinho António Gedeão António Guerreiro António Guterres António José Seguro António Lau António Lobo Antunes António Manuel Couto Viana António Marcelino António Marques da Silva António Marto António Marujo António Mega Ferreira António Moiteiro António Morais António Neves António Nobre António Pascoal António Pinho António Ramos Rosa António Rego António Rodrigues António Santos Antonio Tabucchi António Vieira António Vítor Carvalho António Vitorino Aquilino Ribeiro Arada Ares da Gafanha Ares da Primavera Ares de Festa Ares de Inverno Ares de Moçambique Ares de Outono Ares de Primavera Ares de verão ARES DO INVERNO ARES DO OUTONO Ares do Verão Arestal Arganil Argentina Argus Ariel Álvarez Aristides Sousa Mendes Aristóteles Armando Cravo Armando Ferraz Armando França Armando Grilo Armando Lourenço Martins Armando Regala Armando Tavares da Silva Arménio Pires Dias Arminda Ribau Arrais Ançã Artur Agostinho Artur Ferreira Sardo Artur Portela Ary dos Santos Ascêncio de Freitas Augusto Gil Augusto Lopes Augusto Santos Silva Augusto Semedo Austen Ivereigh Av. José Estêvão Avanca Aveiro B.B. King Babe Babel Baltasar Casqueira Bárbara Cartagena Bárbara Reis Barra Barra de Aveiro Barra de Mira Bartolomeu dos Mártires Basílio de Oliveira Beatriz Martins Beatriz R. Antunes Beijamim Mónica Beira-Mar Belinha Belmiro de Azevedo Belmiro Fernandes Pereira Belmonte Benjamin Franklin Bento Domingues Bento XVI Bernardo Domingues Bernardo Santareno Bertrand Bertrand Russell Bestida Betânia Betty Friedan Bin Laden Bismarck Boassas Boavista Boca da Barra Bocaccio Bocage Braga da Cruz Bragança-Miranda Bratislava Bruce Springsteen Bruto da Costa Bunheiro Bussaco Butão Cabral do Nascimento Camilo Castelo Branco Cândido Teles Cardeal Cardijn Cardoso Ferreira Carla Hilário de Almeida Quevedo Carlos Alberto Pereira Carlos Anastácio Carlos Azevedo Carlos Borrego Carlos Candal Carlos Coelho Carlos Daniel Carlos Drummond de Andrade Carlos Duarte Carlos Fiolhais Carlos Isabel Carlos João Correia Carlos Matos Carlos Mester Carlos Nascimento Carlos Nunes Carlos Paião Carlos Pinto Coelho Carlos Rocha Carlos Roeder Carlos Sarabando Bola Carlos Teixeira Carmelitas Carmelo de Aveiro Carreira da Neves Casimiro Madaíl Castelo da Gafanha Castelo de Pombal Castro de Carvalhelhos Catalunha Catitinha Cavaco Silva Caves Aliança Cecília Sacramento Celso Santos César Fernandes Cesário Verde Chaimite Charles de Gaulle Charles Dickens Charlie Hebdo Charlot Chave Chaves Claudete Albino Cláudia Ribau Conceição Serrão Confraria do Bacalhau Confraria dos Ovos Moles Confraria Gastronómica do Bacalhau Confúcio Congar Conímbriga Coreia do Norte Coreia do Sul Corvo Costa Nova Couto Esteves Cristianísmo Cristiano Ronaldo Cristina Lopes Cristo Cristo Negro Cristo Rei Cristo Ressuscitado D. Afonso Henriques D. António Couto D. António Francisco D. António Francisco dos Santos D. António Marcelino D. António Moiteiro D. Carlos Azevedo D. Carlos I D. Dinis D. Duarte D. Eurico Dias Nogueira D. Hélder Câmara D. João Evangelista D. José Policarpo D. Júlio Tavares Rebimbas D. Manuel Clemente D. Manuel de Almeida Trindade D. Manuel II D. Nuno D. Trump D.Nuno Álvares Pereira Dalai Lama Dalila Balekjian Daniel Faria Daniel Gonçalves Daniel Jonas Daniel Ortega Daniel Rodrigues Daniel Ruivo Daniel Serrão Daniela Leitão Darwin David Lopes Ramos David Marçal David Mourão-Ferreira David Quammen Del Bosque Delacroix Delmar Conde Demóstenes

Arquivo do blogue