A falência do modelo francês de assimilação dos imigrantes relançou o debate sobre o multiculturalismo. Isto é, sobre se, em vez de os integrarmos na nossa cultura, deveríamos aceitar as culturas desses estrangeiros. Cada vez mais as nossas sociedades são multiculturais, com grupos seguindo diferentes religiões, hábitos e valores. Até onde deve ir o respeito pela diferença? Na Grã-Bretanha, por exemplo, os sikhs estão autorizados a andar de moto sem capacete e com o seu turbante. E não há proibição de usar o véu islâmico ou de ostentar símbolos religiosos.
A identidade pessoal inclui uma dimensão colectiva - por isso há um direito à cultura em que se está originariamente inserido. E quando esse direito colide com direitos que, nós, ocidentais, reputamos básicos? Por exemplo, a tolerância de culturas alheias não pode ir ao ponto de, em Portugal, se permitir a poligamia, a mutilação genital das mulheres, os casamentos forçados pelas famílias, etc. Ou de se negar a igual dignidade do homem e da mulher. Nesses casos, o respeito pela cultura específica do imigrante desrespeita-o como pessoa. É algo não tolerável. Nem são aceitáveis os argumentos daqueles que, na Ásia, defendem a violação dos direitos humanos em nome do que chamam "valores asiáticos", encarando como imperialismo cultural a vigência de valores universais.
O imigrante que vem viver e trabalhar para a nossa terra não pode ser obrigado a seguir todos os hábitos nem a adoptar todos os valores entre nós prevalecentes. Mas tem o dever de não violar algumas regras essenciais do nosso convívio social. Transigir aí, em nome do politicamente correcto ou de outra moda qualquer, só traz problemas para o futuro. Por muito multiculturais que sejam - e serão cada vez mais - as nossas sociedades.