Em dez palcos do mundo (Londres, Versalhes, Berlim, Roma, Filadélfia, Barrie, Tóquio, Joanesburgo, Moscovo e Cornualha), decorreu, em simultâneo, um concerto planetário para combater a pobreza em África. É garantido que amanhã, daqui a um mês e mesmo nos próximos anos a pobreza persistirá e milhões de pessoas acabarão por morrer na extrema miséria. Isto não significa que seja de condenar a iniciativa que há-de levar outros milhões de seres humanos a concluir que urge construir uma nova ordem social, que, de uma vez por todas, consiga matar a fome a quem a tem no dia-a-dia.
Mas se é verdade que todos concordam com a urgência de se darem passos firmes, no sentido de erradicar a pobreza, que não deixa de nos envergonhar a todos, também é justo admitir que o egoísmo ainda é, infelizmente, uma marca indelével dos tempos em que vivemos.
Como é que queremos acabar com a fome e com a pobreza extrema em África, se não somos capazes de dar pão aos que o não têm, quantas vezes perto de nós? Comecemos, pois, pelos pobres que há entre nós e logo a seguir, mas mesmo logo a seguir, olhemos para os africanos pobres, muitos dos quais falam e rezam em Português.
Entretanto, não deixemos de apoiar as instituições que estão no terreno a lutar para que muitos sobrevivam, enquanto o pão não chega. Afinal, a solidariedade universal só é possível com gente solidária, generosa e com capacidade para amar.
Fernando Martins