sábado, 17 de abril de 2021

Epitáfio: Professor Hans Küng​​​​​​​

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

Hans Küng

"Para Küng, a fé assenta numa confiança radical racional em Deus, que se revelou em Jesus."

1. Morreu em paz na sua casa de Tubinga no passado dia 6 o teólogo católico mais conhecido nas últimas décadas. Escreveu o próprio epitáfio: PROFESSOR HANS KÜNG. Professor vem do latim: profiteri, que também significa entregar uma mensagem. O problema de muitos professores é que não têm mensagem nenhuma para entregar; Küng tinha e passou a sua vida a passar essa mensagem, mensagem maior para a Humanidade: o Evangelho em confronto com o mundo moderno e o mundo moderno em confronto com a fé. Ainda teve a alegria de ver a suas obras completas publicadas: 24 volumes. Sobre a fé, a Igreja, Deus, as religiões, a arte, a psicanálise, o ecumenismo, o diálogo inter-religioso, a ética... Era um trabalhador incansável, com profundíssimo conhecimento de Teologia, Filosofia, História, Ciência... e com o dom, raro, de transmitir em linguagem acessível o que o rigor académico exige.

2 Foi o mais jovem teólogo convidado por João XXIII como perito do Concílio Vaticano II, integrando uma plêiade de teólogos alemães, incluindo Joseph Ratzinger, mais tarde Bento XVI.
Küng era um cristão convicto, fascinado por Jesus. Disse-me numa longa conversa: "Para mim, ser cristão tem ainda hoje sentido, pois, com o cristianismo, pode-se ser Homem num sentido mais profundo e radical. Hoje vê-se cada vez mais claramente que o cristianismo não é uma pura ideologia para si mesmo. A Igreja não tem a sua finalidade em si mesma. O cristianismo deve ajudar o Homem a ser Homem melhor e mais radicalmente." Quem é o cristão? Aquele, aquela para quem Jesus é "o determinante na vida e na morte".

sexta-feira, 16 de abril de 2021

Aleluia! Somos Testemunhas do Ressuscitado

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo III da Páscoa



«Os discípulos cristãos, por direito e dever baptismais reforçados por outros sacramentos e graças, estão chamados a reconfigurar o rosto de Cristo desfigurado na autenticidade das suas vidas, na competência das suas profissões, na intervenção ética pública, na participação consciente na assembleia dominical/missa, nos serviços indispensáveis ao bom “funcionamento” da comunidade eclesial.»

Naqueles dias, o grupo dos amigos de Jesus estava reunido e comentava o desfecho da aventura em que apostaram. Conversava sobre as notícias que começavam a espalhar-se: rumores do túmulo vazio, desaparecimento do cadáver, vozes de que estaria vivo, aparições a mulheres, sobretudo a Madalena, a Pedro, aos peregrinos de Emaús. Reina a confusão e o desconcerto, apesar dos relatos positivos feitos por alguns dos presentes. O descalabro do Calvário deixou-lhes marcas profundas. A visão pessimista sobrepõe-se ao horizonte de esperança que começa a raiar. O estado anímico e mental permanece duro e sem possibilidades de entender a novidade que desponta. Lc 24, 35-48.
Lucas, tendo em conta a comunidade a que se destina o seu Evangelho, recorre a várias fontes e elabora um texto cheio de imagens e de símbolos, acompanhados por frases de clarificação. Deixa-nos assim uma bela e interpelante mensagem: A ressurreição não afecta apenas a Jesus, mas envolve-nos a todos, totalmente, embora possamos demorar algum tempo a tomar consciência desta verdade admirável que, um dia, há-de consumar-se, em nós, plenamente. O realismo da narração visa um objectivo pedagógico e doutrinal. Tem algum suporte histórico, mas é sobretudo doutrinal, indicativo da caminhada na fé de quem se abre à acção do Senhor ressuscitado.

domingo, 11 de abril de 2021

Na oitava da Páscoa

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO

Nas nossas igrejas, não basta colocar mulheres em algumas posições de responsabilidade.

1. O historiador Andrea Riccardi (nasceu em 1950), fundador da Comunidade de Santo Egídio, tem uma vasta obra sobre a vida da Igreja, no mundo moderno e contemporâneo, em parte já traduzida em português [1]. Conheci-o, em Lisboa, na Gulbenkian, quando veio participar num ciclo de “Conferências sobre a Democracia”, promovido pela Fundação Mário Soares. Tive a alegria de fazer a sua apresentação e ficámos amigos.
O Secretariado da Pastoral da Cultura, com o título A Sexta-feira Santa da Igreja Católica: Entre a noite e a aurora, chama a atenção para o mais recente ensaio deste historiador e militante católico, traduzindo uma entrevista do jornalista Riccardo Maccioni ao próprio Andrea Riccardi [2].
Parece-me importante trazer, para esta crónica, algumas referências dessa entrevista, procurando não a trair.
O autor fala do risco de a Igreja se concentrar no presente para defender as posições que ainda mantém. Em vez disso, é preciso suscitar e libertar energias construtivas. E surge a pergunta: Como podem nascer realidades renovadas a partir de um clero envelhecido e de estruturas que se mostram cada vez mais pesadas?

sábado, 10 de abril de 2021

Sebastião da Gama nasceu neste dia


PEQUENO POEMA

Quando eu nasci, 
ficou tudo como estava.

Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...

P'ra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...

Sebastião da Gama, 
In  Serra - Mãe

Uma singela evocação de Sebastião da Gama que nasceu neste dia, 10 de Abril, do ano 1924. Faleceu jovem em 7 de Fevereiro de 1952. Penso que este poema será, porventura, o mais conhecido do poeta. 

Daniel Faria celebraria hoje 50 anos

Se fosse vivo, Daniel Faria celebraria hoje 50 anos. Um acidente tirou-lhe a vida, há 20 anos, no mosteiro de Singeverga, onde morava. José Tolentino Mendonça, cardeal e escritor multifacetado, considerou Daniel Faria “um dos mais importantes poetas portugueses nascidos no século XX”, cabendo “ao século XXI a tarefa de descobri-lo”.
Os poemas de Daniel Faria, que exigem leitura atenta, são para mim razões de reflexão serena. Por isso os procuro com frequência no meu dia a dia.
Deixou-nos muito cedo, legando-nos, em jeito de testamento, a sua imperecível poesia.


Procuro o lento cimo da transformação
Um som intenso. O vento na árvore fechada
A árvore parada que não vem ao meu encontro.
Chamo-a com assobios, convoco os pássaros
E amo a lenta floração dos bandos.
Procuro o cimo de um voo, um planalto
Muito extenso. E amo tanto
A árvore que abre a flor em silêncio.

Do livro  DOS LÍQUIDOS

Ver mais aqui 

Jesus e a Igreja. 1

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

1. Será preciso começar pela pergunta: Jesus fundou a Igreja, concretamente com a constituição com que hoje se apresenta? A resposta é inequívoca: "Não." De facto, por exemplo, na obra com o título em português A Igreja Católica ainda Tem Futuro? Em Defesa de Uma Nova Constituição para a Igreja Católica, na sequência de outras, o famoso exegeta Herbert Haag, da Universidade de Tubinga, com quem tive o privilégio de privar, renovou a tese segundo a qual é um dado seguro da nova investigação teológica e histórica que Jesus não fundou nem quis fundar uma Igreja (Jesus é o fundamento da Igreja, mas não o seu fundador, dizia o grande teólogo Karl Rahner) e, assim, muito menos pensou numa determinada constituição para ela. Também o Cardeal Walter Kasper, quando era professor da Universidade de Tubinga, perguntava nos exames aos estudantes se Jesus tinha fundado a Igreja, esperando uma resposta negativa.
Jesus não pregou a Igreja; anunciou o Reino de Deus. É bem conhecida a afirmação célebre de Alfred Loisy, em O Evangelho e a Igreja (1902), talvez a obra de teologia que mais polémica levantou no século XX: "Jesus anunciava o Reino e o que veio foi a Igreja."
Com a morte de Jesus na Cruz, o suplício próprio de escravos, os discípulos confusos fugiram, dispersaram-se, voltaram às suas tarefas normais, pois aparentemente tudo tinha terminado. Assim, o que é espantoso - o enigma do cristianismo, mesmo de um ponto de vista histórico, é precisamente esse - é que pouco tempo depois começaram a dizer que o tinham "visto", que Ele está vivo. Se tudo tivesse terminado na morte, o destino de Jesus teria sido o esquecimento. Os discípulos reuniram-se, pois, outra vez e formaram comunidades (ekklesiai) congregadas pela fé em que esse Jesus, o Messias de Deus, voltaria em breve para instaurar o Reino de Deus em plenitude. Portanto, também as primeiras comunidades cristãs viveram dessa profecia, dessa fé e dessa esperança da chegada iminente do Reino de Deus. Neste sentido, basta ler a Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses 4, 15-17: "Nós os que estamos vivos, quando vier o Senhor, não teremos preferência sobre os que morreram."

sexta-feira, 9 de abril de 2021

Na Praia da Barra por alguns momentos

O nosso Farol é um marco simbólico: Dá o nome à povoação 

Ao longe, o que a máquina fotográfica torna próximo: o  Porto de Aveiro

Em baixo, bem perto de nós, as rolas do mar. 

O fim da caminhada para quem chega 

Ao fim da tarde, o desafio de sair de casa em jeito de treino para um futuro de mais tranquilidade, com alguma garantia do uso normal da máscara, levou-nos à Praia da Barra. As pernas, destreinadas, acusaram a falta de hábito das caminhadas. Mesmo assim, gostámos de sair e de sentir um sol acalentador. Esplanadas bem frequentadas, jovens já em trajes que lembraram o pino do verão, apressados para uma exposição ao sol, estirados no areal. Outros caminhavam e nós atentos ao usufruto de uma oferta do astro rei, apesar das promessas de chuva para breve.
Umas fotos para registar o momento e o regresso com promessas de novas saídas, com as precauções próprias da pandemia.
A noite vinha a caminho e nós regressámos satisfeitos. A Lita desafiou-me a repetirmos as saídas. E eu concordei.

Etiquetas

A Alegria do Amor A. M. Pires Cabral Abbé Pierre Abel Resende Abraham Lincoln Abu Dhabi Acácio Catarino Adelino Aires Adérito Tomé Adília Lopes Adolfo Roque Adolfo Suárez Adriano Miranda Adriano Moreira Afonso Henrique Afonso Lopes Vieira Afonso Reis Cabral Afonso Rocha Agostinho da Silva Agustina Bessa-Luís Aida Martins Aida Viegas Aires do Nascimento Alan McFadyen Albert Camus Albert Einstein Albert Schweitzer Alberto Caeiro Alberto Martins Alberto Souto Albufeira Alçada Baptista Alcobaça Alda Casqueira Aldeia da Luz Aldeia Global Alentejo Alexander Bell Alexander Von Humboldt Alexandra Lucas Coelho Alexandre Cruz Alexandre Dumas Alexandre Herculano Alexandre Mello Alexandre Nascimento Alexandre O'Neill Alexandre O’Neill Alexandrina Cordeiro Alfred de Vigny Alfredo Ferreira da Silva Algarve Almada Negreiros Almeida Garrett Álvaro de Campos Álvaro Garrido Álvaro Guimarães Álvaro Teixeira Lopes Alves Barbosa Alves Redol Amadeu de Sousa Amadeu Souza Cardoso Amália Rodrigues Amarante Amaro Neves Amazónia Amélia Fernandes América Latina Amorosa Oliveira Ana Arneira Ana Dulce Ana Luísa Amaral Ana Maria Lopes Ana Paula Vitorino Ana Rita Ribau Ana Sullivan Ana Vicente Ana Vidovic Anabela Capucho André Vieira Andrea Riccardi Andrea Wulf Andreia Hall Andrés Torres Queiruga Ângelo Ribau Ângelo Valente Angola Angra de Heroísmo Angra do Heroísmo Aníbal Sarabando Bola Anselmo Borges Antero de Quental Anthony Bourdin Antoni Gaudí Antónia Rodrigues António Francisco António Marcelino António Moiteiro António Alçada Baptista António Aleixo António Amador António Araújo António Arnaut António Arroio António Augusto Afonso António Barreto António Campos Graça António Capão António Carneiro António Christo António Cirino António Colaço António Conceição António Correia d’Oliveira António Correia de Oliveira António Costa António Couto António Damásio António Feijó António Feio António Fernandes António Ferreira Gomes António Francisco António Francisco dos Santos António Franco Alexandre António Gandarinho António Gedeão António Guerreiro António Guterres António José Seguro António Lau António Lobo Antunes António Manuel Couto Viana António Marcelino António Marques da Silva António Marto António Marujo António Mega Ferreira António Moiteiro António Morais António Neves António Nobre António Pascoal António Pinho António Ramos Rosa António Rego António Rodrigues António Santos Antonio Tabucchi António Vieira António Vítor Carvalho António Vitorino Aquilino Ribeiro Arada Ares da Gafanha Ares da Primavera Ares de Festa Ares de Inverno Ares de Moçambique Ares de Outono Ares de Primavera Ares de verão ARES DO INVERNO ARES DO OUTONO Ares do Verão Arestal Arganil Argentina Argus Ariel Álvarez Aristides Sousa Mendes Aristóteles Armando Cravo Armando Ferraz Armando França Armando Grilo Armando Lourenço Martins Armando Regala Armando Tavares da Silva Arménio Pires Dias Arminda Ribau Arrais Ançã Artur Agostinho Artur Ferreira Sardo Artur Portela Ary dos Santos Ascêncio de Freitas Augusto Gil Augusto Lopes Augusto Santos Silva Augusto Semedo Austen Ivereigh Av. José Estêvão Avanca Aveiro B.B. King Babe Babel Baltasar Casqueira Bárbara Cartagena Bárbara Reis Barra Barra de Aveiro Barra de Mira Bartolomeu dos Mártires Basílio de Oliveira Beatriz Martins Beatriz R. Antunes Beijamim Mónica Beira-Mar Belinha Belmiro de Azevedo Belmiro Fernandes Pereira Belmonte Benjamin Franklin Bento Domingues Bento XVI Bernardo Domingues Bernardo Santareno Bertrand Bertrand Russell Bestida Betânia Betty Friedan Bin Laden Bismarck Boassas Boavista Boca da Barra Bocaccio Bocage Braga da Cruz Bragança-Miranda Bratislava Bruce Springsteen Bruto da Costa Bunheiro Bussaco Butão Cabral do Nascimento Camilo Castelo Branco Cândido Teles Cardeal Cardijn Cardoso Ferreira Carla Hilário de Almeida Quevedo Carlos Alberto Pereira Carlos Anastácio Carlos Azevedo Carlos Borrego Carlos Candal Carlos Coelho Carlos Daniel Carlos Drummond de Andrade Carlos Duarte Carlos Fiolhais Carlos Isabel Carlos João Correia Carlos Matos Carlos Mester Carlos Nascimento Carlos Nunes Carlos Paião Carlos Pinto Coelho Carlos Rocha Carlos Roeder Carlos Sarabando Bola Carlos Teixeira Carmelitas Carmelo de Aveiro Carreira da Neves Casimiro Madaíl Castelo da Gafanha Castelo de Pombal Castro de Carvalhelhos Catalunha Catitinha Cavaco Silva Caves Aliança Cecília Sacramento Celso Santos César Fernandes Cesário Verde Chaimite Charles de Gaulle Charles Dickens Charlie Hebdo Charlot Chave Chaves Claudete Albino Cláudia Ribau Conceição Serrão Confraria do Bacalhau Confraria dos Ovos Moles Confraria Gastronómica do Bacalhau Confúcio Congar Conímbriga Coreia do Norte Coreia do Sul Corvo Costa Nova Couto Esteves Cristianísmo Cristiano Ronaldo Cristina Lopes Cristo Cristo Negro Cristo Rei Cristo Ressuscitado D. Afonso Henriques D. António Couto D. António Francisco D. António Francisco dos Santos D. António Marcelino D. António Moiteiro D. Carlos Azevedo D. Carlos I D. Dinis D. Duarte D. Eurico Dias Nogueira D. Hélder Câmara D. João Evangelista D. José Policarpo D. Júlio Tavares Rebimbas D. Manuel Clemente D. Manuel de Almeida Trindade D. Manuel II D. Nuno D. Trump D.Nuno Álvares Pereira Dalai Lama Dalila Balekjian Daniel Faria Daniel Gonçalves Daniel Jonas Daniel Ortega Daniel Rodrigues Daniel Ruivo Daniel Serrão Daniela Leitão Darwin David Lopes Ramos David Marçal David Mourão-Ferreira David Quammen Del Bosque Delacroix Delmar Conde Demóstenes

Arquivo do blogue