sábado, 26 de dezembro de 2020

Gafanha: Mulheres amanham a terra

“Nas Gafanhas da Nazaré, da Encarnação, na d'Aquém, na do Carmo, na Vagueira,... em todas as Gafanhas de Ílhavo, as mulheres amanham a terra, durante o tempo (às vezes, dez meses por ano!) em que os homens pescam o bacalhau nos mares distantes da Terra Nova, da Gronelândia, da Costa do Labrador. Elas cavam, semeiam, ceifam e colhem: duramente, com sanha viril. E assim se bastam e aos filhos. Quando o marido vier da campanha, encontrará a casa cheia como um ovo; e branquinha, sem sombra de dívida: Então com a ajuda de Deus, ele poderá comprar mais um pedaço de terra.
É assim com o Ribau, com o Chibante... com muitos outros. Com o Sarabando, também gafanhão e dos sete costados, não será bem assim: muitos filhos e todos pequenos ainda. Mas já alguém o viu triste, ao nosso Sarabando? Eu cá, nunca. Pobrete, mas alegrete.”


In "Nos mares do fim do mundo",
de Bernardo Santareno

Foto de "As mulheres do meu país" de Maria Lamas 

Entre o Ano Velho e o Ano Novo

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias



A passagem de ano é sempre, mesmo nesta nossa presente circunstância triste e confinada, um tempo especial: balanço do ano que passou, perspectivação do ano novo que chega.

1 Agora, percebemos melhor que é preciso programar, mas há também o imprevisível. Quem poderia prever há um ano que iria cair sobre nós, nós todos, globalmente, esta catástrofe de uma pandemia: um vírus invisível, com sofrimentos indizíveis por todo o lado, que nos traz a todos em sobressalto permanente? Tivemos de aprender por experiência dura o que não conhecíamos: palavras como covid-19, confinamento, desconfinamento, reconfinamento, "distância social", máscaras (sabíamos, mas era tudo em abstracto)... Sobretudo: que muitos, no fim do ano de 2020, já cá não estão, e foram-se sem uma despedida, como se tivessem desaparecido numa noite de breu, no meio de uma tempestade...

Em família, o Menino crescia em sabedoria

Reflexão de Georgino Rocha 
para a Festa da Sagrada Família



A apresentação de Jesus, no Templo de Jerusalém, constitui um acontecimento marcante na série de factos que manifestam a sua identidade e missão, o primeiro dos quais é a sua família. É também uma nova Epifania que está centrada no encontro de Simeão e de Ana, símbolos de uma humanidade insatisfeita com o presente e aberta ao futuro da esperança. Lc 2, 22-40 
“Um aspeto do mistério da encarnação, cujo aprofundamento esta celebração permite, afirma Manicardi, gira em torna do facto de que Jesus nasce e cresce num ambiente familiar, social, cultural e religioso específico… Do texto transparece, numa perspetiva hermenêutica, o problema da responsabilidade educativa dos pais e o laço da relação entre a família e a comunidade. A família enriquece a comunidade e a comunidade apoia a família no seu trabalhoso caminho humano e de fé”
A apresentação é uma festa judaica que contém em gérmen e desvenda em profecia o propósito que dá sentido à vida de Jesus: “Estar na casa do Pai”, fazer a sua vontade e anunciar o Evangelho do Reino. É um ritual familiar que celebra uma etapa significativa na inserção religiosa e social de Maria e José que vão apresentar o seu Menino ao Senhor e serem reconhecidos pela autoridade do Templo, cumprindo os preceitos da Lei. Que belo exemplo deixam aos pais que sentem o impulso natural de apresentar os seus filhos a Deus, agradecer o dom da vida e pedir a bênção para a aventura iniciada e as surpresas inesperadas!

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

O Menino estava deitado na manjedoira

 

«Mal os anjos partiram para o céu, os pastores disseram uns para os outros: “Vamos a Belém para vermos o que o Senhor nos deu a conhecer." Foram a toda a pressa e lá encontraram Maria e José e o Menino, que estava deitado na manjedoira. Depois de verem tudo isto, puseram-se a contar a toda a gente o que lhes fora dito a respeito daquele Menino. Todos os que ouviram o que os pastores diziam ficavam muito admirados.»

Lucas 2, 15-18

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Velha Mesa


 Postal dos CTT, 1959, de Raquel Roque Gameiro 

NATAL DA ESPERANÇA

A  NATIVIDADE 


 Vitral criado por Hans Acker (séc. XV), 
catedral de Ulm, Bade-Wurtemberg, Alemanha.

Desejamos  a todos os nossos amigos e leitores dos meus blogues um Santo Natal, que vai ficar na história como o Natal da Esperança, porque a pandemia vai ser vencida pela determinação dos cientistas, pelos redobrados cuidados de todos  e, ainda, pela nossa atenção aos feridos da vida. 

Lita e Fernando 

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Os Velhos

Declaração de interesses: Nós somos velhos. Estamos na casa dos 80. Declaro isto por querer alinhavar umas notas sobre os velhos que, resistindo ao tempo, nos dão o prazer de existirem, mesmo que encostados a um canto de um qualquer lar, por mais estrelas que tiver,  ou da sua própria residência, cujos cantos e recantos exibem filmes de vidas decerto muito felizes. Mas os velhos precisam que olhem para eles, forma muito especial de se sentirem pessoas, com direitos e obrigações. Olhar, neste caso, significa falar, ouvindo e perguntando  mais do que ditando conselhos e decretando sentenças. Sem pressas e com paciência. 





É indiscutível que os velhos já foram jovens e pessoas de meia idade, ativos e atuantes na sociedade. Foram pessoas responsáveis, interventivas na comunidade, capazes de pensar o seu presente e o futuro dos seus familiares e amigos. Trabalhadores incansáveis em prol da suas famílias e da sociedade em geral. O peso dos anos talvez explique um certo cansaço, um real afastamento do dia a dia das comunidades que serviram com denodo e das famílias que construíram ao lado de vizinhos que se saudavam diariamente e com quem cavaqueavam quando se cruzavam. 
Se é certo que os anos vividos serviram de suporte a novas famílias, os velhos não perderam o seu lugar no mundo ao qual pertencem por direito e por justiça. Muitos, contudo, vão ficando sozinhos e entregues às suas memórias e aos seus futuros, sem futuro agradável e partilhado com familiares e amigos. 
Vem estas considerações a propósito dos velhos internados nos lares e nos hospitais, isolados nas suas casas, dias e dias sem terem com quem desabafar, com quem conversar com gente capaz de escutar. Haverá, contudo, lugar para os que ainda podem deslocar-se por seu pé, falar mesmo que não convidados para isso, apreciando o ambiente que tanto ajudaram a erguer. 
O Natal, que muitos apregoam que é quando o homem quiser, e não apenas na quadra tradicional, 25 de Dezembro, não passa de miragem para muitos velhos. Todavia, ainda poderá ser uma das raras possibilidades que alguns velhos terão de sentir afeto, atenção e carinho sem lamechices, deles ouvindo histórias imensas vezes repetidas que são estímulos para se manterem vivos. 
Felizmente, a nossa velhice (minha e da Lita) ainda está ativa e com capacidade para acolher, para ouvir projetos lindos dos mais novos, para trocar ideias, para discutir princípios de vida e de futuro, para concordar e discordar do que fazem, dizem e projetam, para aplaudir o bom e belo que fazem. Também nos sentimos felizes quando apreciamos o sol regenerador e a lua sonhadora, as pessoas que passam e nos saúdam, a beleza da natureza florida, o cair das folhas outonais e até a chuva benfazeja quando vem com regra. 
Os velhos, afinal, contentam-se com pouco, mas não toleram a indiferença dos que, por serem mais novos ou mais envolvidos nas canseiras da vida, não descobrem uns minutos para olhar ou conversar com os que carregam o peso dos anos e de trabalhos desgastantes. 
Bom Natal para todos

Fernando Martins