"No mundo que até hoje nos foi dado conhecer, nenhuma terra existe como a de Aveiro, onde a água tão sensivelmente tenha valorizado a paisagem e exercido uma decisiva influência nos usos e nos costumes de um povo. Pode recordar-se a Holanda, as rias do Adriático, os lagos do Norte da Itália, a ria de Valência, o curso do Reno, mas nada disto nos fala de uma união mais harmoniosa entre a água e o homem, mais íntima e mais sentimental do que na região aveirense.
Ao observarmos isto não temos o pensamento senão na vida de um povo simples que ama a água, a terra e o espaço com o mesmo fervor e adoração com que reza a Deus. Podem as civilizações operar maravilhas (a seu modo) e pode o homem, com toda a sua ambição, alterar a morfologia da paisagem através da sua obra de conquista e de progresso, sacrificando, assim a própria Natureza em favor de uma evolução que, para seu mal, não lhe tem dado paz nem felicidade. Pode tudo isto acontecer, e tem acontecido, mas será difícil, na terra de Aveiro, que a civilização destrua as suas razões etognósticas, modifique a sua etnografia e conspurque a sua beleza paisagística."
Daniel Constant
Nota - Excerto de um texto publicado na revista Aveiro e o seu Distrito, n.º 1