segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Roteiro Afetivo de Palavras Perdidas

António Mega Ferreira faleceu hoje


Tem sido notícia o falecimento de António Mega Ferreira, escritor, gestor e jornalista, talvez mais conhecido por chefiar a candidatura de Lisboa à Expo’98, de que foi comissário executivo. Depois desempenhou diversas funções de grande relevo cultural e social, tendo publicado ao longo da vida 40 obras de ficção, ensaio, poesia e crónicas.
Não sendo grande conhecedor da sua obra, andava presentemente com um livro em mãos, publicado em Setembro deste ano, “Roteiro Afetivo de Palavras Perdidas”, que me ofereceram há dias e que me deixa fascinado. Lê-se, portanto, com muito agrado.
Mega Ferreira dá-se ao luxo de estudar «o mistério que envolve o envelhecimento e a obsolescência das palavras» que caíram em desuso, dissecando-as ao pormenor, para enriquecer o leitor com referências por muitos nunca imaginadas. Cada palavra é uma crónica que permite aos mais idosos recordar tempos idos.
Aqui ficam algumas como desafio: Atenazar, Bota de elástico, Capelista, Desaustinado, Emplastros, Famigerado, Galheta, Hombridade, Infernizar, Jucundo, Lhaneza, Merenda, Olvido, Pileca, Sumiço, Telefonia, Utopia, Vate, Xerazade, Zorba.

Fernando Martins




ABUSOS 

A sensação de abusos alimentares é norma nestes tempos festivos. Toda a gente sabe. Mas hoje fiquei mais tranquilo quando li que o pior é quando abusamos durante todo o ano. Garanto que vou pensar seriamente nisso e só vou abusar na próxima passagem do ano. Façam como eu. 

Que a paz do Deus-Menino permaneça em todos

Notas do meu diário

Hoje, Dia de Natal, Festa da Família, foi momento esperada com ansiedade como é da tradição. Por nós e pelos que nos cercam desde que nos casámos, em 7 de Agosto de 1965. Já passaram tantos anos! A Família cresceu, ramificou-se, mas ainda é possível confirmar que persiste o desejo da união e da partilha, traduzido nas lembranças que hão de recordar os momentos de alegria suscitados. É próprio do Dia de Natal, festa do nascimento do Menino que veio para estar no meio de nós, como símbolo da paz e da fraternidade universais, ano a ano renovado.
Que a paz do Deus-Menino permaneça em todos os meus amigos e leitores.

Fernando Martins

domingo, 25 de dezembro de 2022

Natal de Deus, Nosso Natal: Deus Connosco

Crónica de Bento Domingues
no PÚBLICO

Teimamos em contrariar o desígnio de Cristo e seguir o reino da estupidez, o império da guerra. Continuamos, no entanto, a acreditar que a paz vencerá. Por isso, Boas Festas!
 
1. Quase todos os anos, quando chegava o Natal, procurava e procuro não confundir o Jesus da história e o Cristo da fé. Por Jesus histórico, a obra monumental de John P. Meier (1942-2022) referia-se ao Jesus que podemos resgatar ou reconstruir, utilizando os instrumentos científicos da moderna pesquisa histórica. Considerando-se o estado fragmentário das nossas fontes e da natureza, muitas vezes indirecta, dos argumentos que devemos usar, este Jesus histórico será sempre um constructo científico, uma abstracção teórica que não coincide, nem pode coincidir, com a realidade plena do Jesus de Nazaré que, de facto, viveu e trabalhou na Palestina, no primeiro século da nossa era. Com a iluminação da fé sentimo-lo como nosso contemporâneo e vida da nossa vida mais profunda. O Jesus histórico não é o Jesus real. A própria noção de real é enganosa. Como observa o investigador citado, com humor, existem tantos livros sobre Jesus que dariam para três vidas e um budista pecador poderia muito bem ser condenado a passar as próximas três incarnações lendo-os todos [1].

sábado, 24 de dezembro de 2022

Natal: o Emmanuel

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

Há já alguns anos, o meu bom e ilustre amigo, o eurodeputado Paulo Rangel, e eu tivemos uma conversa muito agradável para mim sobre (imagine-se) Deus e a tentativa de dizê-lo e nos relacionarmos com Ele. Dela resultou um texto de Paulo Rangel, com o significativo título Deus é Aquele que está. Numa longa entrevista recente a Inês Maria Meneses, voltou ao tema, confessando a sua fé no Deus de Jesus, o Emmanuel, o "Deus connosco". Para ele, Deus é "Aquele que está", Deus não é "esse ser distante e estático" construído a partir da ontologia grega , o Deus que é, "mas antes o ser próximo e interactivo que está e estará connosco, Aquele que acompanha, Aquele que não abandona. Deus é Aquele que está, o Emmanuel."

Natal de ontem, natal de hoje

A maravilha de crescer em humanidade

Reflexão de Georgino Rocha
para esta época

Fé que não se faz cultura não chega a ser fé cristã. Festa que não ajuda a crescer em humanidade, não é festa cristã.

O nascimento de Jesus suscita um dinamismo extraordinário que Lucas narra de forma sóbria e discreta. Maria e José aconchegam o Menino e vêem realizadas as promessas feitas há meses pelo enviado de Deus. Contemplam-no, mais com o coração do que com os olhos, e deixam que seja o silêncio a falar. Acolhem quem O visita e ouvem quanto se diz a respeito do recém-nascido. Lc 2, 1-20.
Os pastores acorrem apressados e expectantes. Querem confirmar o que lhes havia sido anunciado. Os magos, despertos e orientados na sua curiosidade, põem-se a caminho e, errantes, vagueiam até chegar ao local do encontro. Herodes e os seus conselheiros reúnem de emergência e, temendo o pior, armam ciladas a quem os consulta e procuram eliminar a presumida ameaça ao poder. O Céu une-se à terra em admirável exultação festiva e maravilhosa coincidência.

Litania para o Natal de 1967

 

Para nos pedir contas do nosso tempo

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
num sótão num porão numa cave inundada
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
dentro de um foguetão reduzido a sucata
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
numa casa de Hanói ontem bombardeada

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
num presépio de lama e de sangue e de cisco
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
para ter amanhã a suspeita que existe
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
tem no ano dois mil a idade de Cristo

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
vê-lo-emos depois de chicote no templo
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
e anda já um terror no látego do vento
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
para nos pedir contas do nosso tempo

David Mourão-Ferreira  


NOTA: Enquanto por ali andava encolhido a tentar fugir do frio, saltou-me da memória este lindo poema (para mim, claro) de  David Mourão-Ferreira, que partilho com os meus amigos amantes da poesia, com votos de Bom Natal.