Crónica de Bento Domingues
no PÚBLICO1. O pessimismo não é realista porque não abre caminhos para o futuro. Paralisa. O princípio-esperança, pelo contrário, incita à luta mesmo quando as dificuldades parecem invencíveis.
No século XIX, parecia que a Igreja Católica rompia oficialmente com o mundo moderno. No século XX, alguns movimentos católicos recusaram esse destino. Tudo fizeram, lutando contra muitos obstáculos, por vezes, criados pela própria Hierarquia, para abrir portas e janelas de diálogo com esse mundo turbulento e ensanguentado por duas guerras mundiais. Foi, no entanto, João XXIII – de uma forma inesperada – que convocou um concílio para que esse esforço não fosse, apenas, de alguns movimentos e de algumas personalidades. Como disse Eduardo Lourenço, em 2011, nas célebres Conferências de Maio do CRC, “é preciso ver que este concílio foi pensado e imaginado por alguém que merecia ser ‘santo súbito’, chamado João XXIII, que teve uma palavra que é de uma novidade absoluta, não em si mesma, porque está no Evangelho, mas na sua tradução histórica propriamente dita, ao dizer esta frase extraordinária: ‘a Igreja não tem inimigos'"[1]. Foi também, de modo muito inesperado, que o Papa Francisco reacendeu o fogo do Vaticano II numa “Igreja marcada por um longo inverno”.