Reflexão de Georgino Rocha
para o Domingo XXV do Tempo Comum
Ser o primeiro em reconhecer a grandeza da simplicidade e a riqueza do amor de doação. Ser o primeiro na alegria de viver e na firmeza da fé da esperança. Ser o primeiro na partilha de bens e no testemunho da felicidade.
Aspirar a ser o primeiro faz parte da natureza humana e cultiva-se durante a vida. Os discípulos de Jesus conversam animadamente sobre este assunto, nos caminhos da Galileia. A conversa chega à discussão e revela quão importante era segundo os padrões da época: Hierarquias bem definidas na sociedade, nas sinagogas, nas festas e banquetes. Transparece claramente que o seu projecto de vida é alcançar a glória e o poder “num reino que só existia na sua cabeça”.
O episódio ocorre numa circunstância especial. Jesus tinha-lhes dito, mais uma vez, que o percurso que ia seguir, para realizar a sua missão, não era o da ostentação gloriosa, mas o da cruz, da morte indigna, da ressurreição feliz. Esta declaração confunde-os. Não era assim que sonhavam o trajecto do Messias para a vitória. Mc 9, 30-37
Jesus acolhe a perplexidade em que os discípulos se encontram. Reconhece que ser o primeiro é importante. Pretender alcançá-lo é legítimo. Mas, ser o primeiro em quê e para quê? As intenções dos discípulos não coincidem com o propósito de Jesus. É preciso clarificar o assunto e reencaminhar a aspiração. E, como bom mestre, recorre à pedagogia do exemplo. Toma uma criança, coloca-a no centro do grupo e abraça-a. Depois esclarece o alcance do seu gesto.
Ontem como hoje, ser o primeiro e na disponibilidade para acolher e dialogar, na atenção e no serviço, sobretudo aos pequeninos da sociedade (feridos da vida, excluídos, proscritos, ignorados). Em tomar a cruz da vida por amor, descobrindo a fecundidade do Invisível que nos acompanha.
Santa Edith Stein/Teresa Benedita da Cruz, afirma: «Na noite mais escura, surgem os maiores profetas e os santos. Todavia a corrente vivificante da vida mística permanece invisível. Certamente, os eventos decisivos da história do mundo foram essencialmente influenciados por almas sobre as quais nada se diz nos livros de história. E saber quais sejam as almas a quem devemos agradecer os acontecimentos decisivos da nossa vida pessoal, é algo que só conheceremos no dia em que tudo o está oculto for revelado».( citado em Alegrai-vos e Exultai 8).
Ser o primeiro na capacidade de colocar o outro como centro da sua vida e das suas preocupações. Ser o primeiro em reconhecer a grandeza da simplicidade e a riqueza do amor de doação. Ser o primeiro na alegria de viver e na firmeza da fé da esperança. Ser o primeiro na partilha de bens e no testemunho da felicidade. Ser o primeiro no amor à Eucaristia e sua celebração, no respeito adorante e veneração missionária.
O Papa Francisco, na recente Viagem Apostólica à Eslováquia, no encontro com os membros do Conselho Ecuménico das Igrejas neste país, confessa que “embora ainda não possamos partilhar a mesma Mesa Eucarística, podemos hospedar juntos Jesus, servindo-o nos pobres. Será um sinal mais sugestivo do que muitas palavras, que ajudará a sociedade civil a compreender, especialmente neste período doloroso, que só estando do lado dos mais fracos poderemos sair verdadeiramente todos da pandemia”
E aos participantes no 52º Congresso Eucarístico Internacional deixa-nos o desafio a passar da admiração de Jesus à sua admiração com uma resposta pessoal de vida. “Jesus sacode-nos, não se contenta com declarações de fé, pede-nos que purifiquemos a nossa religiosidade diante da sua cruz, diante da Eucaristia”.
Pe. Georgino Rocha