Crónica de Bento Domingues
no PÚBLICO
O que haverá de original naqueles que fazem da Ressurreição de Cristo um princípio de vida pessoal e de intervenção social?
1. Por causa da crónica do passado domingo, um velho conterrâneo telefonou-me para me dizer o seu desconsolo com a Páscoa de agora, que já não tem graça nenhuma.
Não se referia às missas mascaradas. Manifestou-me simplesmente as saudades da maior e mais antiga festa da sua aldeia, onde agora raramente vai, testemunhando a sua progressiva desertificação. O tempo dos foguetes, acompanhados com os sinos alegres da Igreja, a banda de música entusiasmada a levar, em cortejo, a cruz enfeitada e luminosa a todas as casas, por caminhos transformados em tapetes de verdura e flores, para levar a todos a espantosa notícia – Aleluia, Cristo ressuscitou, aspergindo a família e a casa com água abençoada –, é um tempo que já só existe no museu da sua memória!
O mundo rural da nossa infância não tem grandes hipóteses de transfiguração religiosa. Para as comunidades católicas urbanas, é preciso escutar e interrogar o Prof. Alfredo Teixeira. É um antropólogo, músico e teólogo que não se alimenta de lamúrias, mas de criações, no seio da contemporaneidade, estimulado pelos contributos pioneiros da linguagem litúrgica do saudoso dominicano, Frei José Augusto Mourão.