A Lita está hoje de parabéns. Ao completar 81 anos de vida, mantém a liderança da casa, cultivando a harmonia entre todos os membros da família. Nunca escondeu a idade que tem e até faz gala de sublinhar que já passou a barreira dos 80 anos. Não tem o dinamismo que a caracterizou ao longo da nossa vida em comum, a caminho dos 56 anos, mas demonstra à evidência a alegria de viver e de partilhar o dom de amar os que a rodeiam e de criar amizades com uma facilidade que me espanta.
A festa que a Lita merecia está proibida pela pandemia, mas tenho a certeza de que toda a família estará com ela, mesmo à distância, já que o amor não tem barreiras e do longe se faz perto graças aos meios de comunicação. Mas ela, já ontem, me garantiu: — Quando o confinamento terminar ou depois de vacinados a festa da família será feita.
É claro que concordo. E concordo porque a Lita precisa e merece a ternura de todos nós, a atenção dos que a envolvem, porque é na dor de cada um, nas preocupações de todos que o amor da Lita sobressai com o carinho adequado, os conselhos oportunos e a disponibilidade total para o que for preciso.
Com o passar dos anos, as limitações não deixam de marcar terreno, a saúde vai dando lugar a certas impossibilidades, mas a Lita não desiste de procurar soluções. Consulta médicos, cuida da sua alimentação como ninguém, governa a casa como só ela sabe, vai às compras com os cuidados impostos pelo Covid-19 e teima em me proibir de sair porque, diz ela, se calhar com razão: — Tu és um descuidado e cumprimentas toda a gente sem respeito pelo distanciamento.
Neste outono da nossa existência, continuaremos a acreditar que a vida plena, com a alma primaveril, merece ser partilhada com a família toda, em especial, e com todo o mundo, em geral.
Fernando Martins