sexta-feira, 12 de março de 2021

Pratica a verdade, aproxima-te da luz

Reflexão de Georgino Rocha 
para esta semana



A CAMINHO DA PÁSCOA

O diálogo de Jesus com Nicodemos traz-nos esta preciosidade, que marca a atitude fundamental do homem/mulher que busca o autêntico sentido da vida: quem pratica a verdade, aproxima-se da luz. É dirigida a um mestre em “letras sagradas” que, entusiasmado pelo que ouvia a respeito do grande profeta de Nazaré, vem na penumbra da noite, conversar com ele e expor-lhe as suas dúvidas. Tantas notícias circulam que algo de diferente deve estar a acontecer. Jo 3. 14-21.
Hesitante pelo risco que correria, decide-se pela força da sua paixão de saber, de conhecer a realidade, de ver claro os caminhos da salvação. Escolhe a noite, não só por ser símbolo do seu estado interior, mas por proporcionar um ambiente de maior verdade, um espaço de liberdade isenta de preconceitos e condicionamentos.
A atitude de Nicodemos torna-se um dos símbolos de quem busca a verdade com determinação. Desinstala-se do que lhe dá segurança – as leis –, recolhe informação que acentua o seu estado de dúvida, pondera o que será mais razoável e sensato – ir à fonte e verificar a autenticidade das notícias –, faz-se ao caminho com ousadia prudente. Esta atitude constitui um símbolo vigoroso que mantém toda a sua actualidade!
Os nossos contemporâneos têm à mão um “mercado” religioso, rico em produtos de fácil consumo. Estão tão acessíveis que, em qualquer momento, podem ser usados e descartados. São tantos que cada um tem possibilidade de elaborar a própria ementa e satisfazer as necessidades inquietantes. No entanto, perduram tão pouco tempo que os seus “consumidores” têm de recorrer a outros bens para preencher o vazio existencial preocupante. E de experiência em experiência, sentem o desejo da verdade que ilumina a condição do ser humano, da sua ânsia de Infinito, da sua vocação sempre inacabada à realização plena.
Nicodemos, ao iniciar a conversa salienta a relação de Jesus com Deus atestada pelas obras feitas. E este, como bom pedagogo, dá-lhe uma resposta com sabor de provocação: “Garanto-te que quem não nascer de novo, não poderá ver o reino de Deus”. A provocação produz o seu efeito e surgem interrogações angustiantes. Jesus mantém o alcance da sua afirmação. E com imagens e símbolos de grande alcance, vai abrindo horizontes ao “judeu importante” que procura compreender o que havia sido dito. Evoca e descodifica o episódio da serpente erguida por Moisés no deserto, e recorre ao contraste amor e ódio, luz e trevas, salvação e condenação. “Tal como Moisés elevou a serpente no deserto, assim o Filho do Homem será elevado para que todo aquele que acredita tenha a vida eterna.” Referência clara à Cruz da paixão, antecâmara da ressurreição. E conclui ser necessário nascer de novo porque Deus ama o mundo a ponto de enviar o seu Filho para salvação de todos.
A cruz, escreve o Padre Robert Sholtus, será sempre um produto invendável… Mas o instrumento da queda humana tornou-se o da vitória divina, o emblema do ódio tornou-se o cimo do amor, o lugar do rebaixamento o da exaltação». Vers Dimanche.
Esta é a verdade plena que “toma rosto humano” em Jesus erguido na cruz por amor. Esta é a luz irradiante que ilumina os passos do homem/mulher em busca de Deus que continuamente se lhe oferece nos caminhos da vida.
Atendamos ao que diz o Papa Francisco, na recente viagem apostólica ao Iraque na visita Hosh al-Bieaa, Mossul. Ao dirigir-se aos presentes e ao P. Raid, sacerdote nesta cidade afirma: «O senhor descreveu-nos a deslocação forçada de muitas famílias cristãs das suas casas… «Aqui encontrou acolhimento, respeito, colaboração. Obrigado, Padre, por ter compartilhado estes sinais que o Espírito faz florir no deserto e ter mostrado que é possível esperar na reconciliação e numa vida nova». SNPC.

Pe. Georgino Rocha 

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